Após desembarque do governo, centrão prepara plano para escantear Bolsonaro
Por Tribuna Foz dia em Notícias
Após desembarque do governo, centrão prepara plano para escantear Bolsonaro
Parte considerável do centrão cristalizou um movimento político na semana que passou. Alinhado à direita nos últimos anos, o bloco não caminha mais ao lado de Jair Bolsonaro (PL). A intenção é ocupar o espaço deixado pelo ex-presidente.
O que aconteceu
Forças políticas estão se reposicionando para a provável condenação de Bolsonaro pelo STF (Supremo Tribunal Federal). Como sempre, o centrão não agiu unido. Mas caciques de Republicanos, União Brasil e PP mostraram a direção que pretendem tomar para conquistar o Planalto nas próximas eleições.
Dois fatos ocorridos na última semana indicam o caminho escolhido. Dentro do ecossistema politico de Brasília, os acontecimentos abaixo rivalizaram em atenção com o julgamento de Bolsonaro.
Articulação de Tarcísio de Freitas pela anistia;
Desembarque de União Brasil e PP do governo Lula.
O movimento do centrão foi percebido pelos bolsonaristas. O deputado Cabo Gilberto (PL-PB) afirma que a tentativa do bloco é legítima porque buscar liderar um campo político é algo natural e esperado. Mas não vê futuro. Ele projeta a derrocada da tentativa do centrão em emplacar um nome fora do bolsonarismo e o retorno à órbita de influência do ex-presidente.
A esquerda também percebeu. O líder de um partido disse que viu como consequência o surgimento de uma terceira força no Congresso Nacional. À ala dos apoiadores de Tarcísio se somou à conhecida polarização entre parlamentares bolsonaristas e lulistas.
A movimentação fez Tarcísio virar alvo do PT. Líder do partido na Câmara, o deputado Lindbergh Farias (RJ) criticou a iniciativa do governador de São Paulo em tentar perdão aos manifestantes que destruíram as sedes dos Três Poderes.
Novo dono da direita
Uma aliança mudou o equilíbrio de forças da política nacional. União Brasil e PP se juntaram para formar a maior federação do Brasil. Chamada de União Progressista, ela tem a maior bancada de deputados, a maior bancada de senadores e oito governadores.
A federação é fiadora da candidatura de Tarcísio. O sucesso do governador de São Paulo numa eventual corrida presidencial é o instrumento usado pelo centrão para mudar o eixo da direita —comandada por Bolsonaro desde 2018.
Um elemento que escancara a tentativa de ruptura é a data de definição do candidato da direita a presidente. Bolsonaro e seus filhos insistem em manter o ex-presidente como nome da oposição até o março de 2026, o que permite à família comandar o processo.
O centrão quer antecipar a escolha. O argumento é que a construção de alianças exige tempo para negociações porque é preciso definir o nome a vice-presidente e as chapas que concorrem aos governos e ao Senado.
Essa liderança do processo ficaria com o centrão. Por meio de demonstrações coordenadas de alinhamento nas últimas semanas, Tarcísio e o bloco sinalizaram a disposição de selar uma aliança.
Não há garantia de sucesso. Esquerda e bolsonaristas ressaltam que Tarcísio é cria política de Bolsonaro e pode ser visto como traidor. Se souber negociar, o ex-presidente pode obter muitas concessões e preservar parte de seu capital político e capacidade de influenciar a direita.
Além disso, nem todo o centrão embarcou na canoa de Tarcísio. Entre os que não estão no projeto está o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que tem atuado em consonância com o presidete Lula.
Protagonismo no Executivo
O centrão, nos moldes que existem hoje, surgiu em 2014 e é a maior força do Congresso Nacional. Esquerda e direita não têm força suficiente para aprovar projetos, e o lado que o bloco escolhe é vencedor nas votações.
Os presidentes do Senado e da Câmara têm sido do centrão. Esta posição dá ao bloco o poder de escolher quando e quais propostas serão votadas.
Mas o centrão quase sempre foi satélite de presidentes. Quando o bloco nem tinha este nome, compôs com o governo federal na primeira passagem de Lula pelo Planalto. A situação continuou na era Dilma Rousseff (PT).
Houve maior protagonismo do centrão na gestão Michel Temer (MDB). O bloco deu os votos necessários para o impeachment de Dilma e soube cobrar a fatura.
A ascensão de Bolsonaro tirou poder do centrão. A composição para o bloco apoiar o ex-presidente foi finalizada somente no segundo semestre de 2021.
A gestão Lula 3 tem o PT ocupando os principais postos. O centrão tem ministérios, mas não é capaz de ditar os rumos do governo federal. Além disso, a iniciativa de patrocinar Tarcísio para presidente fez União Brasil e PP anunciarem que vão entregar o cargos.
Republicanos, MDB e PSD, outros partidos do centrão, permanecem com postos no governo. Não estar unido em uma movimentação política é outra característica do bloco. O tamanho e interesses divergentes levam a cisões, mas os caciques conseguem impor sua vontade e determinar para qual direção o centrão vai.
Tarcísio é a bola da vez. Lula é o inimigo. Bolsonaro não será abandonado, mas não é prioridade.
Fonte: Uol
