Ataque dos EUA representa "escalada clara no conflito", dizem analistas
Por Tribuna Foz dia em Notícias

Ataque dos EUA representa "escalada clara no conflito", dizem analistas
Donald Trump afirmou na noite de hoje que os Estados Unidos bombardearam três instalações nucleares no Irã, incluindo Fordow, Natanz e Isfahan. Ataque representa uma escalada militar no conflito, analisa o professor de relações internacionais da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fernando Brancoli.
O que aconteceu
Estados Unidos participam agora diretamente do conflito, diz o professor. "Isso representa uma escalada clara no conflito, de apoio indireto aos ataques de Israel, os EUA agora participam diretamente. O resultado tem sido uma séria degradação da infraestrutura nuclear iraniana", avalia Brancoli.
Apesar do ataque, não houve declaração formal de guerra pelos EUA. O professor explica que foram ataques cirúrgicos seletivos, sem abertura oficial de uma guerra. "A estratégia está alinhada ao que os EUA já praticaram: bombardeios pontuais, visando objetivos estratégicos específicos. Nesse caso, o alvo é claramente o programa nuclear iraniano. Trump ainda não buscou aprovação formal do Congresso", diz.
Conflito entre Israel e Irã ganha novos contornos. Para Karina Stange Calandrin, professora de relações internacionais do Ibmec, o bombardeio autorizado por Trump eleva riscos, amplia alvos e reduz o espaço para contenção diplomática. "Isso sinaliza que os EUA estão dispostos a usar força total na destruição de instalações nucleares estratégicas iranianas", avalia.
A especialista concorda que não há declaração formal de guerra. "Não se trata de mobilizar tropas em solo nem iniciar uma invasão. Mas, ao lançar múltiplas bombas, incluindo mísseis de bunker-buster, os EUA demonstram disposição de usar força contundente, ainda que limitada, como tem sido padrão em intervenções americanas anteriores", explica Karina Stange Calandrin.
Irã deve responder aos ataques, dizem analistas. É provável que o país persa ataque bases dos EUA no Oriente Médio e acione milícias aliadas, como os Houthis do Iêmen, o Hezbollah, no Líbano, para atingir navios e bases americanas na região. "Mas não há sinais de operações terrestres nos EUA. O Irã busca retaliar sem provocar uma guerra total, que levaria a uma resposta americana devastadora. Além disso, sua capacidade logística para atacar território dos EUA diretamente é muito limitada", diz a professora de relações internacionais.
Dependendo da forma como o conflito se escalar, Trump terá de lidar com a réplica iraniana e não terá outra opção a não ser uma tréplica. Essa é a avaliação de Lucas de Souza Martins, professor de História dos Estados Unidos na Temple University, na Filadélfia. "O anúncio do presidente Trump nas redes sociais sinaliza uma atenção ao seu eleitorado. Ele se elegeu prometendo que facilitaria o fim de confrontos, como os embates no Oriente Médio e entre Rússia e Ucrânia. Agora, Trump, de fato, terá de lidar com esta cobrança e, ao que indica, criar uma narrativa política que justifique a intervenção americana em um novo foco de confronto", explica.
Ataque é uma maneira dos EUA darem uma resposta aos seus aliados. Pedro Costa Júnior, cientista político e pesquisador da USP (Universidade de São Paulo) diz que, apesar do ataque, é possível que Trump recue. "Ele não dá sinal que vai proclamar uma guerra, mas tudo vai depende do que o Trump vai falar em seu pronunciamento hoje".
Entenda
Trump anunciou hoje que autorizou e realizou ataques contra instalações nucleares mantidas pelo governo de Teerã. "Concluímos nosso ataque muito bem-sucedido às três instalações nucleares do Irã, incluindo Fordow, Natanz e Esfahan", escreveu o americano nas redes sociais. "Todos os aviões estão agora fora do espaço aéreo do Irã. Uma carga completa de BOMBAS foi lançada no local principal, Fordow. Todos os aviões estão a caminho de casa em segurança", disse.
O republicano terminou sua postagem dizendo que "agora é a hora da paz". "Parabéns aos nossos grandes guerreiros americanos. Não há outro exército no mundo que poderia ter feito isso. Agora é a hora da paz! Obrigado por sua atenção a esse assunto", completou.
Até agora, Trump vinha insistindo que atuaria apenas na defesa de Israel. Ele havia dado duas semanas para tomar uma decisão de um envolvimento nos ataques.
Seu anúncio, portanto, pegou diplomatas e grupos políticos de surpresa. Os democratas imediatamente alertaram que Trump havia entrado em guerra sem a aprovação do Congresso americano.
A medida ainda promete causar polêmica dentro de seu próprio núcleo de apoio. Sua base insistia que havia eleito Trump para a Casa Branca para encerrar o envolvimento militar dos EUA no exterior, em especial no Oriente Médio.
Mas a ala mais tradicional do partido republicano defendia que os EUA tivessem um papel ativo nos ataques já iniciados por Israel. Entre embaixadores estrangeiros na ONU, o temor é de que a guerra se amplie e que o Irã seja obrigado a responder, com ataques contra bases e alvos americanos. Na semana passada, várias das embaixadas dos EUA na região foram esvaziadas ou tiveram seus funcionários reduzidos.
Fonte: Uol