Haddad: "Vai machucar um pouco", mas Brasil consegue enfrentar o tarifaço
Por Tribuna Foz dia em Notícias

Haddad: "Vai machucar um pouco", mas Brasil consegue enfrentar o tarifaço
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse hoje em entrevista ao programa UOL News, do Canal UOL, que o tarifaço dos Estados Unidos "vai machucar um pouco", mas ponderou que o Brasil tem condições de enfrentá-lo. Haddad respondeu perguntas dos colunistas Carla Araújo e Josias de Souza sobre a política comercial do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sobre as recentes discussões acerca dos impostos cobrados no país.
O que aconteceu
Segundo Haddad, há setores da economia no Brasil que exportam mais da metade de sua produção para os EUA. O presidente norte-americano, Donald Trump, estabeleceu em abril uma tarifa mínima de importação de 10% sobre todos os produtos brasileiros e, no início deste mês, impôs mais 40% para outras mercadorias, incluindo a carne e o café.
O ministro afirmou que o Brasil tem adotado uma postura proativa para "desobstruir canais" com o governo americano. "O empresariado está muito engajado nisso", disse. Por outro lado, o governo também tem adotado "postura reativa" sobre possíveis decisões que Trump pode tomar.
Haddad disse que é "da natureza" de Lula abrir mercados comerciais. O chefe da Fazenda citou que, no primeiro mandato do petista como presidente, as exportações aos EUA ficavam em torno de 25% de todas as exportações do Brasil. "Hoje, são 12%, e a tendência, se os EUA mantiverem essa postura belicosa, é cair."
Sobre possíveis novas sanções dos EUA, Haddad disse não saber se vão acontecer. "Quem disse que sabe está mal informado", apontou o ministro. "Nós vamos cuidar, só não dá para prever o que pode sair da cabeça do Trump."
"O tarifaço] vai machucar um pouco? Vai. Porque tem setores que exportam mais de 50% da sua produção para lá. Então, tem empresas, setores não, mas empresas que vão sofrer. De uma maneira geral, macroeconomicamente falando, eu acredito que o Brasil está em condições de enfrentar." segundo Fernando Haddad, ministro da Fazenda.
Ainda segundo o ministro da Fazenda "Porque eles dependem mais, eles precisam de commodities baratas. O Brasil é fornecedor de commodities baratas. Você taxar carne, taxar café, você vai arrumar outra freguesia, não tem dúvida disso. Aliás, soube ontem pelo ministro [da Agricultura e Pecuária] Fávaro que as exportações de carne depois do tarifaço para os Estados Unidos aumentaram. Então, o povo americano está pagando mais caro a carne, porque querem comprar a carne brasileira, está pagando a taxa."
Negociação com os EUA
Haddad afirmou que a negociação com os EUA se dá apenas no campo comercial. "Tudo que está sendo mobilizado nesse momento é para contestar os argumentos [americanos, que justificaram o tarifaço]. Como é que um país que tem déficit com os EUA há 15 anos, mais de US$ 400 bilhões acumulados, pode ser sobretaxado por razões estranhas?", questionou o ministro.
"O lobby quem tem que fazer não é o Estado brasileiro." Ao ser perguntando sobre a razão de o Brasil ter contratado um escritório de advogacia nos EUA, o ministro lembrou que é necessário defender os interesses comerciais do país e que muitas empresas brasileiras exportadoras estão fazendo o mesmo.
Impostos
Haddad defendeu a cobrança de 10% de imposto de renda para quem ganha mais de R$ 1 milhão por ano. "É o mínimo que tem que ser feito", defendeu ele. A estimativa dele é de que haja 140 mil brasileiros com essa renda.
O ministro também afirmou esperar que o Congresso Nacional honre seu compromisso com a reforma do IR. Tem havido pressão de parte dos parlamentares do Centrão e da oposição, que querem retirar as medidas de compensação.
"Nós fizemos dois compromissos que eu espero que sejam honrados. O primeiro compromisso foi da grande reforma tributária sobre imposto sobre consumo. Neutralidade. Então, não há uma reforma para aumentar ou diminuir a arrecadação. Há uma reforma para racionalizar, desonerar investimentos, desonerar exportações, ampliar a cesta básica, diminuindo o preço de alimento, mas manter a arrecadação. Nem mais, nem menos. Do mesmo jeito, nós fizemos um entendimento com os líderes de que a reforma da renda, a isenção, tinha que ter compensação para que, do ponto de vista fiscal, ela fosse neutra. Eu creio, e eu tenho ouvido declarações do presidente Hugo Mota, de que esse compromisso vai ser honrado", segundo Fernando Hadad.
O Estado está "muito pesado" para o trabalhador, disse Haddad. Segundo ele, trabalhadores estão pagando imposto no consumo, imposto de renda e outras frentes.
"Para o andar de cima, que reclama do Estado, o Estado está muito leve", afirmou ministro. "Os que reclamam do Estado são os que menos contribuem para a gestão do Estado. Então, estão reclamando de quê?", acrescentou ele.
"Se a gente quer aliviar imposto sobre consumo, imposto sobre a renda do trabalhador, esse pessoal que não colaborava vai ter que começar a colaborar", concluiu Haddad. Ele reiterou o compromisso de realizar uma "grande reforma tributária sobre imposto sobre consumo" que seja "neutra" do ponto de vista fiscal — ou seja, cobre mais de quem tem mais e menos de quem tem menos.
A intenção do governo é isentar do imposto de renda quem ganha até R$ 5 mil por mês. O governo federal mandou ao Congresso um projeto de lei que prevê a compensação financeira da isenção com a tributação em até 10% de uma fatia mínima da população, de 141 mil contribuintes, que ganham a partir de R$ 600 mil por ano. Haddad vê a reforma da renda como a "cereja do bolo" para que o país comece "a tocar na ferida da desigualdade, que é uma coisa que poucos governos tentaram e quase nenhum conseguiu".
"Ninguém aqui é ingênuo de imaginar que vai ser um passeio. Mas nós vamos fazer um debate junto à opinião pública. E eu penso que hoje a opinião pública está muito fortemente aderente a esse projeto, tá apoiando esse projeto.", finalizou Fernando Haddad, ministro da Fazenda.
Fonte: Uol