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MEDIANEIRA: O cartel funerário. Até onde vai a ganância?

Por Tribuna Foz dia em Notícias

MEDIANEIRA: O cartel funerário. Até onde vai a ganância?
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MEDIANEIRA

O cartel funerário. Até onde vai a ganância?

Uma única funerária que, ao que tudo indica, não mede esforços - nem escrúpulos - para monopolizar o luto alheio e transformar a dor das famílias em lucro garantido

Na pacata e acolhedora Medianeira, cidade do interior do Paraná, um tema sombrio começa a emergir com força e a incomodar quem tem olhos atentos aos bastidores do poder local: o domínio crescente, questionável e suspeito de uma única funerária que, ao que tudo indica, não mede esforços - nem escrúpulos - para monopolizar o luto alheio e transformar a dor das famílias em lucro garantido. Trata-se da Funerária Elevare, que, longe de simbolizar respeito e solidariedade em momentos delicados, parece cada vez mais encarnar os piores aspectos do oportunismo empresarial.

A denúncia que se desenha é gravíssima: um cartel funerário em formação, sustentado por práticas aparentemente ilegais, pressões indevidas sobre famílias enlutadas, agenciamento escuso de serviços, abuso de posição dominante e, talvez o mais grave, o uso da influência política para se blindar de qualquer tentativa de regulamentação ou justiça.

Um plano funerário com cara de armadilha

A Elevare opera em Medianeira como quem acredita estar acima das leis. Segundo dados disponíveis nos órgãos fiscalizadores, a empresa já foi punida duas vezes por violar o sistema de rodízio funerário estabelecido em licitação pública, além de acumular diversas outras sanções. Apesar disso, é a funerária que mais atende na cidade: 87,5% a mais que as concorrentes. Um número que não se explica apenas por acaso ou competência - mas por práticas agressivas de agenciamento que beiram o crime.

O plano funerário administrado pelos próprios donos da empresa funciona como uma verdadeira armadilha. Associados do plano funerário Saff estariam sendo induzidos a usar exclusivamente os serviços da funerária Elevare, sob ameaça velada de perder benefícios, ter o padrão do funeral rebaixado ou até mesmo não serem atendidos. Em outras palavras, a pessoa paga por um plano acreditando estar protegida, mas na hora do luto se vê obrigada a aceitar a empresa imposta ou sofrer as consequências. Isso não é assistência. É chantagem emocional institucionalizada.

Quem controla o luto, controla a população?

Parece que os donos da Elevare não estão satisfeitos apenas com os lucros do seu plano funerário. Querem poder absoluto, inclusive influenciando decisões no poder público. E, nesse ponto, a história ganha contornos ainda mais preocupantes.

Na tentativa de estabelecer regras mais justas e evitar o monopólio, a Prefeitura de Medianeira criou uma nova legislação para proteger os consumidores e garantir igualdade entre as empresas funerárias. Mas o que se viu em resposta foi uma movimentação relâmpago do vereador Douglas Gerviack, que apressadamente protocolou emendas que favorecem a Elevare, minando o esforço de transparência e justiça da administração pública.

A atuação do vereador, feita em tempo recorde e com motivação questionável, levanta sérias dúvidas sobre quem realmente está sendo representado no Legislativo municipal. O povo ou os interesses empresariais de uma única funerária? Estaria o Legislativo agindo como extensão do lobby privado, ignorando o clamor popular por dignidade no luto?

O jogo sujo da desinformação e manipulação

A estratégia da Elevare, no entanto, não para por aí. Quando confrontada com a tentativa da Prefeitura de estabelecer equilíbrio no setor, a empresa, em vez de dialogar ou se ajustar à lei, parte para o ataque. Cria narrativas distorcidas em grupos de WhatsApp, confunde a população, acusa outras funerárias e a própria gestão municipal de perseguição - tudo isso enquanto posa de vítima, quando na verdade é a maior beneficiária de um esquema desigual e antiético.

Há denúncias de que a Elevare teria inclusive retirado corpos sem autorização legal - prática conhecida como "papa-morto", condenada em qualquer sociedade civilizada. A empresa aborda famílias no momento do desespero, propaga mentiras sobre os serviços concorrentes e manipula o luto alheio como se fosse uma jogada comercial qualquer.

O cinismo atinge níveis alarmantes quando se observa que os padrões de funeral supostamente "inferiores" oferecidos por outras funerárias são definidos pelo próprio plano funerário da Elevare. Ou seja: a empresa rebaixa o padrão, culpa os outros e lucra com isso, manipulando a percepção das famílias em seu momento mais vulnerável.

MEDIANEIRA

Cidade precisa acordar para não ser refém de um sistema que lucra com a dor humana

O luto é um momento sagrado, que exige respeito, acolhimento e liberdade de escolha

Essa situação não pode mais ser ignorada. A população de Medianeira não pode aceitar ser refém de um sistema que lucra com a dor humana e atua à margem da ética e da legalidade. O luto é um momento sagrado, que exige respeito, acolhimento e liberdade de escolha. Transformálo em campo de guerra empresarial é degradar o mínimo senso de humanidade.

Enquanto o município tenta implementar leis que equilibrem o mercado e protejam os cidadãos, a Elevare se coloca como a única contrária. A que mais grita. A que mais lucra. E, não por acaso, a que mais quebra as regras. Isso deveria ser suficiente para despertar o alerta em qualquer cidadão de bem.

A pergunta que ecoa é direta: quem se beneficia com a permanência desse modelo? E, mais do que isso: até quando os poderes instituídos - Executivo, Legislativo e Judiciário - vão fechar os olhos para a formação de um cartel que explora o sofrimento humano como se fosse um produto de prateleira?

A cidade pede dignidade

Não estamos falando apenas de negócios. Estamos falando de vidas, de dor, de despedidas. E isso deveria ser suficiente para colocar um freio em qualquer tentativa de monopolização indevida ou abuso de poder econômico.

É hora de agir. Os órgãos fiscalizadores devem ser acionados. O Ministério Público precisa investigar a fundo. O Legislativo municipal deve explicações à população sobre seus vínculos e motivações. E a sociedade civil precisa se unir para dizer basta ao abuso disfarçado de prestação de serviço.

O povo de Medianeira merece o direito de enterrar seus entes queridos com dignidade, sem chantagens, sem manipulações e, acima de tudo, sem ser explorado por aqueles que lucram com a tristeza alheia.

A ganância não pode continuar vencendo a compaixão. E a cidade precisa reagir antes que seja tarde demais.

Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 418, Páginas 10 e 11, de autoria do Jornalista Enrique Alliana

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