Foz do Iguaçu entre as piores em qualidade de vida no Paraná
Por Tribuna Foz dia em Notícias

DURA REALIDADE
Foz do Iguaçu entre as piores em qualidade de vida no Paraná
Foz do Iguaçu ocupa apenas a 72ª posição no ranking estadual de qualidade de vida e amarga a 862ª colocação no ranking nacional
Foz do Iguaçu é reconhecida internacionalmente como uma das cidades mais emblemáticas do Brasil. Com as Cataratas do Iguaçu, uma das sete maravilhas naturais do mundo, e a Usina de Itaipu, símbolo de engenharia e cooperação internacional, o município é um dos principais polos turísticos e estratégicos do país. No entanto, por trás dessa imagem imponente e cheia de potencial, esconde-se uma realidade preocupante para seus mais de 260 mil habitantes.
Um novo relatório publicado pelo Instituto Imazon em parceria com o Índice de Progresso Social (IPS), divulgado no G1 em 30 de maio de 2025, revelou dados alarmantes: Foz do Iguaçu ocupa apenas a 72ª posição no ranking estadual de qualidade de vida e amarga a 862ª colocação no ranking nacional, entre os 5.570 municípios brasileiros. Esses números colocam a cidade em uma posição desconfortável entre as 10 cidades mais populosas do Paraná - e até mesmo chocante - diante da relevância que possui dentro do estado e do país.
Como é calculado o IPS?
O Índice de Progresso Social é uma métrica global, aplicada localmente, que busca avaliar o bem-estar humano sem depender exclusivamente de dados econômicos como PIB ou renda per capita. O IPS é composto por 57 indicadores divididos em três grandes dimensões:
Necessidades Humanas Básicas: analisa o acesso da população a alimentação, moradia digna, assistência médica e segurança.
Fundamentos do Bem-Estar: mede o nível de acesso à educação fundamental, qualidade de vida saudável, e preservação ambiental.
Oportunidades: avalia o respeito aos direitos individuais, liberdade de escolha, igualdade de acesso ao ensino superior e oportunidades de desenvolvimento pessoal.
A análise dos dados evidencia que, apesar de uma leve melhora na média nacional entre 2024 e 2025, o Brasil ainda carrega enormes desigualdades regionais - e Foz do Iguaçu é um exemplo disso.
Uma cidade rica em potencial, mas pobre em condições
É no mínimo contraditório que a 7ª cidade mais populosa do Paraná ocupe apenas a 72ª posição estadual em qualidade de vida. Isso indica que municípios menores, com menos infraestrutura e recursos, estão oferecendo melhores condições de vida a seus cidadãos do que Foz do Iguaçu. Essa realidade revela falhas estruturais profundas que vão muito além da administração pública pontual: trata-se de um ciclo de descaso histórico com áreas fundamentais da vida urbana.
Enquanto atrai milhares de turistas todos os anos e movimenta a economia com o comércio fronteiriço, a cidade enfrenta deficiências crônicas em áreas como saúde pública, saneamento básico, segurança, moradia e educação. Muitos bairros afastados do centro turístico vivem uma realidade de abandono, onde falta acesso a serviços essenciais e sobram desafios diários.
Reflexo das desigualdades
O relatório do IPS escancara as desigualdades sociais que, embora visíveis no cotidiano da população, muitas vezes são invisibilizadas nos discursos oficiais. Moradores de Foz do Iguaçu convivem com longas filas na saúde pública, infraestrutura urbana precária em várias regiões e dificuldade de acesso a serviços básicos.
A dimensão das "Oportunidades", por exemplo, revela que a cidade está longe de oferecer igualdade real para seus habitantes. Jovens enfrentam dificuldade para acessar o ensino superior ou oportunidades de qualificação, o que perpetua ciclos de pobreza e marginalização. Além disso, o crescimento desordenado da cidade e a falta de planejamento urbano contribuem para a degradação da qualidade de vida em áreas periféricas.
O que precisa mudar?
A divulgação desses dados deve servir como um chamado à ação para os gestores públicos, sociedade civil e instituições privadas. É necessário um planejamento integrado e de longo prazo que vá além de investimentos pontuais ou medidas emergenciais. Foz do Iguaçu precisa de políticas públicas que promovam inclusão social, redução das desigualdades, fortalecimento da educação e reestruturação dos serviços de saúde e segurança.
Mais do que nunca, é urgente olhar para dentro. A cidade que encanta o mundo precisa começar a cuidar melhor de quem vive nela. A valorização da qualidade de vida não pode ser uma consequência apenas do desenvolvimento econômico, mas sim um objetivo principal da administração pública.
Uma cidade de contrastes
Foz do Iguaçu é um retrato do Brasil moderno: potencial enorme, mas mal aproveitado. Sua localização estratégica, sua diversidade cultural e sua vocação para o turismo e a inovação poderiam fazer dela uma referência em desenvolvimento humano. Mas, para isso, é preciso enfrentar a realidade com seriedade, coragem e compromisso.
Enquanto os visitantes voltam para suas casas com lembranças das paisagens exuberantes e da hospitalidade local, muitos iguaçuenses continuam convivendo com uma dura realidade que não aparece nos cartões-postais. Que os dados do IPS sejam mais do que números em um relatório - que sirvam como ponto de partida para a transformação social e urbana que Foz do Iguaçu tanto merece.
COMO CHEGAMOS A ISSO?
Seria má gestão ou até mesmo a inércia dos vereadores na fiscalização?
A posição de Foz do Iguaçu no Índice de Progresso Social (IPS) - 862º lugar no Brasil e 72º no Paraná - escancara uma dura verdade: há algo profundamente errado na condução da cidade. Para um município com potencial turístico, econômico e cultural tão grande, esses números representam um retrocesso alarmante.
Mas como se chegou a esse ponto?
Uma das possíveis respostas está na má gestão municipal. A administração pública tem papel fundamental na formulação e execução de políticas voltadas à saúde, educação, moradia, segurança e bem-estar social - todos indicadores analisados pelo IPS. Quando a gestão falha, os efeitos recaem diretamente sobre a população.
No entanto, o problema pode ser ainda mais profundo. E se não for apenas má gestão, mas também inércia dos vereadores, cuja principal função é fiscalizar o Executivo? A omissão da Câmara Municipal, seja por conveniência política ou falta de preparo, contribui para que falhas passem despercebidas ou, pior, sejam ignoradas propositalmente.
A baixa colocação de Foz no ranking nacional não é obra do acaso. Ela é reflexo de uma engrenagem pública enferrujada, onde a falta de planejamento, o corporativismo político e a ausência de fiscalização eficaz abriram espaço para o descaso. A pergunta que fica é: até quando a população vai pagar por essa negligência? É hora de cobrar responsabilidade de quem foi eleito para governar e também de quem foi eleito para fiscalizar.
Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 415, Páginas 6 e 7, de autoria do Jornalista Enrique Alliana