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Respeitem o General Joaquim Silva e Luna, não culpem a mim

Por Tribuna Foz dia em Notícias

Respeitem o General Joaquim Silva e Luna, não culpem a mim
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OPINIÃO

Respeitem o General Joaquim Silva e Luna, não culpem a mim

Toda cidade tem seu drama. Algumas elegem cantores sertanejos, outras influencers de suplementos vitamínicos. Foz do Iguaçu, com sua vocação para o grandioso e o inexplicável, preferiu um general. Não um general qualquer. Um general que já foi ministro da Defesa, presidente da Petrobras, comandante de missão no Haiti e, claro, diretor-geral da Itaipu Binacional. Um homem que poderia, sem culpa alguma, estar agora degustando um Chardonnay chileno num brunch de domingo no Pontão do Lago Sul, em Brasília, mas decidiu trocar a brisa calma do Paranoá pelo bafão úmido da fronteira.

Joaquim Silva e Luna — o nome que hoje ecoa entre panelaços, memes e indignações regionais — não chegou de paraquedas. Veio de farda passada, peito carregado de medalhas e promessas. Dizem que prometeram a ele respeito, tranquilidade e, quem sabe, até um busto na Praça da Paz no futuro. Mas Brasília é perita em fabricar vaidades, e Foz, meus caros, não tem paciência para quem não entrega. Aqui, se o buraco engole o pneu, é culpa do prefeito. Se o remédio não chegou, culpa do prefeito. Se o cachorro latiu de madrugada, culpa do prefeito.

A crise já vai no quinto mês. Cinco meses de nomeações desastrosas, exonerações vexaminosas, secretarias em pé de guerra e um povo que, com toda razão, cansou de esperar milagre na margem do Rio Paraná. Mas o detalhe que poucos sabem — e é aqui que mora a genialidade — é que Foz do Iguaçu está sentada sobre um verdadeiro visionário.

Sim, senhoras e senhores. Porque Joaquim Silva e Luna não é um político qualquer. É um pensador da engenharia aeroespacial. Um homem cuja mente brilhante rivaliza com outros conterrâneos pernambucanos notáveis, como Suassuna e Lula. Ele tem uma ideia revolucionária, já patenteada — e que, até onde consta, deixou físicos e astrônomos desconcertados. Quer encurtar a viagem de São Paulo a Londres para pouco mais de uma hora. Como? Simples. Não se trata de teletransporte ou ilusão de ótica. Ele propõe construir uma nave, que sobe verticalmente, espera a rotação da Terra e desce sobre Londres. Um conceito tão genial, tão singelo na sua simplicidade, que só mesmo o Brasil seria capaz de deixar escondido numa prefeitura de médio porte.

E o povo de Foz? O povo de Foz faz panelaço. Reclama de buraco na rua. De fila na zupa. De secretário que pede as contas. Quando, na verdade, deveria estar perguntando: prefeito, como anda aquele projeto da nave?

Dizem que, lá pelas tantas da noite, enquanto o vento sopra do Paraguai e o barulho das panelas se mistura ao canto de um grilo insone, o general pensa: por que diabos eu larguei o meu pijama? Por que troquei a paz do Lago Sul pelo batuque desafinado da resistência democrática em frente à minha casa? Mas, no fundo, a resposta é só uma: vaidade também é destino.

Nos dias em que sente bater mais fundo a solidão do poder e a amargura da ingratidão dos iguaçuenses, ao deixar o Paço Municipal depois de uma jornada extenuante, Joaquim pede ao motorista que o leve até o Marco das Três Fronteiras. Ali, entre turistas e a brisa quente do verão paraguaio, contempla em silêncio o que considera sua verdadeira obra-prima: a poente estaiada que virou cartão-postal da região. Uma ponte monumental, iluminada e fotogênica, cuja única função, desde a inauguração três anos atrás, é justamente essa — posar para fotos, já que até hoje não há ligação aberta em ambas as margens. Um monumento à engenharia sem pressa e à vocação brasileira para o inacabado.

Portanto, minha gente, não me venham com protesto de ocasião. Não me joguem essa conta. Eu não votei no Joaquim. Eu estava longe, provavelmente num bar do DF reclamando da vida e da cerveja quente. Quem escolheu o general-prefeito foram vocês, cidadãos iguaçuenses. Agora, respeitem o Joaquim. Afinal, vocês o elegeram. Não olhem para mim.

Macarius Leal de Moura é cronista itinerante, ex-aspirante a diplomata e especialista em desastres administrativos de cidades médias. Nascido em Assaré, no Ceará, passou por Foz do Iguaçu nos anos 80 vendendo enciclopédias porta a porta e desde então desenvolveu uma fixação afetiva por prefeitos desastrados e promessas eleitorais que jamais se concretizam. De humor cáustico e prosa elegante, escreve crônicas onde mistura a precisão documental de quem conhece a máquina pública por dentro com a ironia de quem sabe que todo discurso de campanha é, no fundo, uma grande anedota. É autor da frase: “A política é o único circo onde o palhaço aplaude a plateia”.

Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 415, Página 3

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