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Tapa-buracos em Foz do Iguaçu: Números sobem, mas as dúvidas também

Por Tribuna Foz dia em Notícias

Tapa-buracos em Foz do Iguaçu: Números sobem, mas as dúvidas também
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BURACOS DO GENERAL

Tapa-buracos em Foz do Iguaçu: Números sobem, mas as dúvidas também

Transparência é essencial. Não basta divulgar números; é preciso explicar como eles são obtidos, acima de tudo, garantir que representem avanços reais

Na última semana, a secretária de Obras de Foz do Iguaçu, Thaís Escobar, publicou nas redes sociais um vídeo comemorando um suposto avanço significativo nas ações de tapa-buracos no município. Segundo a gestora, até o dia 6 de junho de 2025, a prefeitura teria tapado 1.460 buracos em ruas e avenidas da cidade. À primeira vista, o número pode causar uma impressão positiva, sugerindo um ritmo acelerado de trabalho por parte da administração municipal. Contudo, uma análise mais criteriosa dos dados levanta uma série de questionamentos que ofuscam a celebração.

A principal questão está na média diária de buracos tapados. Se considerarmos o período entre 1º de janeiro e 6 de junho - um total de 157 dias - o número representa cerca de 9,3 buracos tapados por dia. Embora ligeiramente superior à média de 8 buracos diários divulgada no balanço dos 100 primeiros dias de governo, a evolução é discreta, quase imperceptível, e está longe de justificar um tom festivo. Em outras palavras, a diferença não reflete uma aceleração significativa das ações, principalmente diante da realidade das ruas, que seguem esburacadas em muitos bairros.

A situação se torna ainda mais delicada quando observamos o volume de recursos destinados à operação. Apenas para a compra de emulsão asfáltica, a Prefeitura de Foz do Iguaçu estaria firmando contratos que somam R$ 10,2 milhões. Com investimentos tão elevados, seria esperado um impacto mais visível e consistente nas condições da malha viária urbana. No entanto, a sensação da população é de que os problemas continuam praticamente os mesmos.

Outro ponto que tem causado inquietação entre os moradores - e que até agora não teve resposta clara por parte da Secretaria de Obras - é a suspeita de que os números estejam sendo inflados por conta de retrabalhos. Um exemplo emblemático é o da Avenida das Cataratas, uma das principais vias da cidade. Moradores e comerciantes relataram múltiplas intervenções no mesmo trecho em curto espaço de tempo, com buracos sendo tapados e, poucos dias depois, reabrindo, exigindo novas ações. Se esses reparos forem contabilizados como "buracos diferentes", mesmo sendo no mesmo ponto, isso distorce os dados e engana a população sobre o real avanço do serviço.

Esse tipo de prática levanta sérias dúvidas quanto à metodologia de contagem usada pela Secretaria. Afinal, o que está sendo contabilizado como "buraco tapado"?

Cada intervenção, mesmo que repetida no mesmo local? Ou há um controle rigoroso para evitar duplicidades nos números? A falta de clareza alimenta desconfiança e compromete a credibilidade das informações prestadas pela gestão municipal.

Além disso, há uma questão de fundo que não pode ser ignorada: a qualidade dos reparos. O retrabalho constante em determinadas vias pode ser um forte indício de que os serviços estão sendo executados sem o devido padrão técnico. Tapar buracos de forma provisória, apenas para cumprir metas ou apresentar números em redes sociais, não resolve o problema. Pelo contrário, representa desperdício de dinheiro público e aumenta o desgaste da população com a ineficiência da máquina administrativa.

A população de Foz do Iguaçu não precisa de vídeos publicitários, mas de resultados concretos. O que se vê nas ruas, diariamente, são motoristas desviando de crateras, motociclistas arriscando quedas e pedestres enfrentando calçadas deterioradas. O sentimento é de frustração e, sobretudo, de desconfiança. Quando a prefeitura celebra números que não se refletem na realidade vivida pelos cidadãos, o efeito é contrário ao desejado: em vez de confiança, gera-se descrédito.

Transparência é essencial. Não basta divulgar números; é preciso explicar como eles são obtidos, qual o critério usado e, acima de tudo, garantir que representem avanços reais. Sem isso, qualquer comemoração parecerá fora de lugar - ou, pior, uma tentativa de encobrir falhas com marketing.

Foz do Iguaçu merece um serviço de tapa-buracos que vá além da superfície. A cidade precisa de planejamento, fiscalização e, principalmente, respeito ao cidadão. Porque, no fim das contas, não são os buracos que precisam de maquiagem - é a gestão pública que precisa de seriedade.

Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 416, Página 3, de autoria do Jornalista Enrique Alliana

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