A sombra da Pecúlio: fantasmas do passado retornam?
Por Tribuna Foz dia em Notícias

CIDADE ESBURACADA
A sombra da Pecúlio: fantasmas do passado retornam?
A pergunta final é inevitável: quem se beneficia da cidade esburacada? O caos gera contratos? A precariedade alimenta aditivos?
Os problemas de hoje remetem diretamente ao passado recente da cidade. Na gestão do ex-prefeito Reni Pereira, a corrupção atingiu níveis tão alarmantes que resultaram na Operação Pecúlio - considerada a maior operação de combate à corrupção municipal desde a Lava Jato. Doze vereadores, secretários e empresários foram presos e indiciados. Entre eles, nomes conhecidos: Nelsi Coguetto Maria, hoje deputado federal, e seu filho Matheus Veloso Maria, atual deputado estadual - ambos indiciados à época por corrupção.
A construtora Coguetto Maria, que participou de diversas obras sob investigação, esteve ligada diretamente ao escândalo da Avenida Olímpio Rafagnin, um marco de desperdício e corrupção. Ironicamente, hoje, os mesmos personagens circulam com novo status: o de legisladores com foro privilegiado. O que antes era escândalo agora é influência.
Empreiteiros com mandato
A célebre frase do ex-ministro da Saúde, Adib Jatene, ecoa com força neste contexto: "quem faz o orçamento da república são as empreiteiras". Em Foz do Iguaçu, essa realidade é ainda mais literal. Os empresários que antes prestavam serviços à prefeitura, denunciados pelo crime de corrupção agora elaboram emendas e será que controlariam até orçamentos? Isso é legal? Sim. Isso é ético? É, no mínimo, profundamente questionável.
A fusão entre empreiteiras e o poder político escancara um conflito de interesses que ameaça qualquer possibilidade de lisura nas contratações públicas. O "orçamento secreto" em nível federal tem seu reflexo em nível municipal: obras superfaturadas, aditivos contratuais suspeitos, fiscalizações omissas - e ruas, muitas ruas, esburacadas.
O futuro que se constrói com buracos
A pergunta final é inevitável: quem se beneficia da cidade esburacada? O caos gera contratos. A precariedade alimenta aditivos. A indignação da população é combustível para manobras políticas e discursos inflamados. Enquanto isso, Foz do Iguaçu sangra - e não é por falta de recursos, mas por excesso de conivência.
O desafio da secretária Tahís Escobar, se ainda quiser honrar seu título de engenheira, é abandonar a retórica e se debruçar sobre a realidade. Exigir respeito às normas, punir empresas que entregam serviços de má qualidade, rever contratos suspeitos, e sobretudo: responder à população, que tem direito a infraestrutura digna.
Caso contrário, estará fadada a figurar nos livros de história da cidade não como técnica respeitada, mas como peça de um sistema podre - o mesmo que, anos atrás, a Operação Pecúlio tentou desmontar, mas que hoje, ao que tudo indica, ressuscita com nova maquiagem, mas com o mesmo cheiro de asfalto queimado.
Foz do Iguaçu não aguenta mais remendos - nem no asfalto, nem na política. É hora de construir de verdade. E quem não souber como fazer isso, que peça licença e dê lugar a quem sabe.
Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 417, Página 4, de autoria do Jornalista Enrique Alliana