Uma crítica à gestão de obras em Foz
Por Tribuna Foz dia em Notícias

CIDADE ESBURACADA
Uma crítica à gestão de obras em Foz
A cidade de Foz do Iguaçu, mundialmente reconhecida por abrigar uma das Sete Maravilhas da Natureza, vive um paradoxo desconcertante: enquanto atrai turistas de todo o planeta, seus próprios moradores enfrentam cotidianamente um cenário urbano decadente, com ruas esburacadas, obras públicas com vícios construtivos e uma sensação generalizada de abandono. A pergunta que ecoa entre os cidadãos, indignados e cansados, é direta e incômoda: será que uma engenheira formada saberia disso?
A atual Secretária de Obras de Foz do Iguaçu, Tahís Escobar, não é uma figura qualquer. Engenheira civil graduada, mestra em Engenharia Civil pela UNILA, com histórico profissional consolidado em sua própria empresa de engenharia e vasta experiência em perícias técnicas - tudo isso compõe um currículo respeitável. No entanto, a distância entre o que está no papel e o que se vê nas ruas da cidade é abissal.
Asfalto de má qualidade: um problema técnico ou de gestão?
A pavimentação asfáltica tem requisitos técnicos básicos que qualquer aluno de engenharia civil aprende ainda nos primeiros anos de formação: subleito, sub-base, base e revestimento. Ignorar qualquer uma dessas etapas compromete a durabilidade do asfalto, levando a deformações, afundamentos e, inevitavelmente, buracos. No caso de Foz, a reincidência dessas falhas levanta suspeitas não apenas de incompetência, mas de negligência e descaso com o erário público.
Como explicar, por exemplo, o caso do prolongamento da Avenida João Paulo II? Trata-se de uma obra estruturada em concreto - uma opção técnica mais durável, porém que exige rigorosos cuidados no projeto e execução.
Mas receber uma obra defeituosa a vista de todos no dia de sua inauguração, com rachaduras claras. Pois a ausência de juntas de dilatação foi erro primário, inaceitável para qualquer engenheiro, mas para alguém com mestrado e atuação em perícias. Como isso passou despercebido? Quem autorizou receber a obra? E por que foi recebida pelo município?
Esses erros não são detalhes técnicos - são demonstrações evidentes de omissão, falta de fiscalização e, talvez, da instrumentalização política da função técnica.
Seria uma "laranja"?
A dúvida que paira no ar é ainda mais inquietante: será Tahís Escobar, com todo seu currículo técnico, apenas uma peça figurativa? Uma espécie de "laranja" colocada no cargo apenas para dar verniz técnico a decisões que partem de outras esferas de poder? A engenharia, enquanto ciência aplicada, exige compromisso com normas, resultados e ética. Quando a técnica se curva à política, o desastre é certo.
Se a secretária tem conhecimento, mas nada faz, está sendo conivente. Se não tem conhecimento suficiente para perceber o óbvio, então está no lugar errado. Em ambas as hipóteses, a cidade perde.
A omissão custa caro
Obras públicas não são feitas para durar dezenas de anos. São investimentos de milhões, pagos com os impostos da população, e devem seguir normas técnicas rígidas. Quando falham tão rapidamente, não se trata de fatalidade, mas de incompetência - ou pior, de dolo.
A Secretaria de Obras tem a função precípua de fiscalizar todas as etapas, do projeto à execução. É ela que cobra das empreiteiras, que aprova ou rejeita entregas, que zela pelo bom uso do dinheiro público. Quando falha nesse papel, torna-se coautora do desastre.
A avenida das Cataratas, cartão-postal da cidade, virou símbolo do fracasso administrativo. Em pouco mais de 30 dias, um mesmo buraco foi "consertado" cinco vezes, até que na sexta vez, no dia 18 de junho, a via foi novamente interditada, desta vez feito com o material correto que é o asfalto a quente também conhecido como Concreto Betuminoso Usinado a Quente (CBUQ), é um tipo de pavimentação amplamente utilizado em ruas, estradas e outras áreas que necessitam de um revestimento resistente e durável.
O especialista em asfalto que caiu no próprio buraco
O prefeito de Foz do Iguaçu, General Silva e Luna, foi eleito com a promessa de trazer eficiência e disciplina militar à administração pública. Apresentado como "especialista em asfalto", vendeu uma imagem de gestor técnico, imune às falcatruas políticas. No entanto, suas atitudes mostram outra realidade.
Ao invés de assumir a responsabilidade pela má qualidade do asfalto, o prefeito preferiu insultar os cidadãos, dizendo em entrevista que "quem cair no buraco é um estúpido". A frase, além de arrogante, demonstra total desprezo pelo sofrimento da população. O estúpido, na verdade, é quem abandona a função pública de servir e fiscalizar e, em vez disso, culpa o contribuinte pelo próprio fracasso.
Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 417, Página 3, de autoria do Jornalista Enrique Alliana