Atentado contra ex-vereador Adilson Rabelo completa 20 anos
Por Tribuna Foz dia em Notícias
PISTOL AGEM POLÍTICA
Presidente da Câmara foi alvejado na cabeça e encontra-se em estado vegetativo até hoje; mandante do crime ainda não foi encontrado
Na fatídica manhã de 24 de fevereiro de 2003 o então presidente da Câmara, Adilson Ramirez Rabelo, participava de uma audiência púbica no Hotel Bela Itália. Seria seu último ato.
Por volta das 10 horas ele se retirou do evento e entrou em um veiculo Ford / Escort, de placas AKK-8923, conduzido por seu assessor Edilson Soares. O destino era um grande evento na Itaipu com a participação do ex-governador Roberto Requião.
O carro de Rabelo deixou o Hotel Bela Itália e seguiu pela Avenida República Argentina. Poucos metros adiante, no cruzamento com a Avenida Paraná, o semáforo estava fechado e o veículo parou aguardando o sinal verde. O carro ficou parado entre um ônibus e uma Kombi. Enquanto Rabelo conversava com seu assessor, uma moto estaciona no lado direito. O caroneiro da moto saca uma pistola 7.65mm e dispara duas vezes contra a cabeça do presidente da Câmara.
A moto com os dois ocupantes que estavam de capacete e vestiam jaleco amarelo, deixa o local em alta velocidade. Atordoado com os tiros e vendo seu patrão sangrar e gritar de dor, o assessor acelera seu Escort e sai em disparada com destino ao Hospital Santa Casa, furando sinal vermelho e cruzando obstáculos em alta velocidade.
Rabelo é atendido às pressas, mas sua saúde estava comprometida pelo resto da vida, porque uma bala acertou a parte frontal da cabeça, perto do olho e a outra ao lado, causando sérias lesões cerebrais e perda de massa encefálica.
O ex-presidente da Câmara passou por uma cirurgia de emergência e, mais tarde, foi transferido para o Hospital Ministro Costa Cavalcanti. Um mês depois, foi removido ao hospital Sara Kubitschek, em Brasília, para novos procedimentos. Mas os esforços médicos foram em vão porque os ferimentos eram gravíssimos.
Ao longo do tempo, a família tentou diversos recursos, que também foram infrutíferos. Passados 20 anos, Adilson Rabelo continua em estado vegetativo. Vive em uma cadeira de rodas, não fala, não se movimenta e precisa da família para comer e tomar banho. Recebe toda a atenção de sua esposa, Jane, e dos filhos.
Impunidade
Naquela época o crime chocou a cidade e foi destaque em grandes jornais do país. Um delegado especial foi nomeado para acompanhar as investigações, mas quem trabalhou incansavelmente foi a antiga PIC (Promotoria de Investigação Criminal) hoje com a nomenclatura de GAECO. Em pouco tempo foram presos Adriano Ferreira da Silva que segundo a PIC seria a pessoa que intermediou a contratação dos executores, Antonio Carlos dos Santos (Nenhinho) seria o pistoleiro e Gaudêncio dos Reis o motociclista. A polícia constatou a época que eles foram contratados pelo comerciante Sérgio Dávila, mas os três sempre negaram a autoria do crime.
Eles foram julgados em 2006 pelo Tribunal do Juri de Foz do Iguaçu. Por seis votos a um, Adriano e Ronaldo pegaram 12 anos de reclusão e Antonio Carlos 10. Anos mais tarde, o suposto mandante, Sérgio Dávila, também foi julgado e condenado. Ele estaria foragido da justiça e seu crime deve ter prescrevido.
Criminosos julgados seriam "laranjas"
Apesar da polícia ter encontrado os autores do atentado e seu mandante, ainda hoje é voz corrente de que os quatro não tinham qualquer envolvimento com o crime. Seriam apenas "laranjas" para encobrir o verdadeiro mandante, um possível homem influente que teria morrido anos mais tarde, de uma "insidiosa moléstia".
Adilson Rabelo era um político bastante polêmico, ardiloso e esperto. Foi secretário de Meio Ambiente durante o governo Daijó (1997/2000) e era tido como o secretário mais importante junto com seu amigo Paulo Ynoue.
Durante os quatro anos da malsinada gestão Harry Daijó, Rabelo mandava mais que o prefeito. Daijó gostava de viajar e sonhava com seus travesseiros recheados de flores campestres. A noite era visto com frequência nos bares chiques da cidade detonando uma garrafa de Johnny Walker. No dia seguinte chegava tarde na prefeitura com os olhos inchados. Todos sabiam que Daijó gostava de dormir bastante. Rabelo se aproveitou dessa inércia para comandar aquele governo nefasto.
Ele mandava mais que Rasputim e o "Tzar". Daijó parecia gostar da brincadeira. Rabelo mandava em tudo: Licitações, contratos, lixo, propaganda, contratações e exonerações. Diziam até que ele era o prefeito de fato, Daijó o prefeito de direito.
Rabelo usou toda aquela mega estrutura para promover seu nome e se eleger vereador no ano de 2000. Depois de uma eleição tumultuada na mesa diretora da Câmara, ele garantiu a presidência em meio a uma batalha judicial.
Sua gestão como presidente foi bastante atribulada, e isso deve ter contribuído para o atentado.
O verdadeiro mandante do crime provavelmente nunca será conhecido. Esse capítulo negro na história de Foz permanece na mais completa nebulosidade, e a população inteira continua a perguntar: Quem mandou matar Adilson Rabelo?
Suspeito do atentado foi morto com mais de 70 tiros no rio Paraná
Guarda municipal "Tatu" escapou da cadeira e foi atraído para a morte, impedindo a elucidação do atentado político
No filme "O poderoso Chefão" do famoso diretor Francis Ford Copolla, o personagem Sonny Corleone, interpretado por James Caan, é vítima de emboscada na praça de pedágio e leva mais de 70 tiros. A cena é horripilante e nos leva a pensar como foi a morte do guarda municipal "Tatu" em Foz do Iguaçu.
O mistério em torno do atentado contra Adilson Rabelo, parece um filme sobre a máfia, onde os envolvidos são executados com violência extrema, requintes de crueldade e selvageria, ameaças e orelhas decepadas. Assim como no filme, o mandante dos crimes nunca foi responsabilizado.
O guarda municipal Valdir Pereira Mendes, conhecido pela alcunha de "Tatu", chegou a ser acusado de articular a tentativa de assassinato de Adilson Rabelo.
Tatu foi preso naquela época, mas por outros crimes. Ele cumpria pena na Cadeia Laudemir Neves, e recebeu ajuda para "fugir". Teria saído tranquilamente pela porta da frente conduzido em um veículo oficial.
Tatu teria negociado a empreitada por US$ 40 mil e já teria recebido a metade. Mesmo preso, mandava recado ao contratante cobrando o US$ 20 mil que faltavam. A dívida ia sendo postergada, o mandante empurrava com a barriga na esperança de "Tatu" ser morto na cadeia, mas o guarda era muito esperto e sabia como se defender.
Foi então arquitetado um plano macabro para se livrar da testemunha indigesta. Um mensageiro chegou na penitenciária e disse a "Tatu" que sua fuga seria novamente facilitada, ele receberia documentos falsos, de nacionalidade paraguaia, e o restante do dinheiro, mas deveria atravessar o rio e morar no Paraguai.
Tatu concordou e dias depois sua fuga foi facilitada. Ele permaneceu em Foz escondido por algum tempo. Em uma noite ele recebeu a documentação paraguaia, mais uma parte do dinheiro e orientação de tomar uma embarcação na barranca do rio Paraná que o levaria com segurança ao Paraguai. Ao entrar na embarcação, dois barcos se aproximaram e alguns homens iniciaram uma verdadeira fuzilaria. Foram disparados mais de 200 tiros.
"Tatu" foi alvejado 72 vezes e ficou estirado na embarcação com o corpo perfurado de balas. Descontentes com a selvageria, os assassinos ainda deram várias facadas em "Tatu" e deceparam sua orelha.
No dia seguinte, a orelha apareceu dentro de uma sacola na casa do irmão de "Tatu", era um recado muito claro: Quem abrir a boca terá o mesmo destino.
Tatu era um homem que sabia demais. Ele teria ameaçado dar com a língua nos dentes, caso não recebesse o dinheiro da empreitada. A ameaça deu certo. Tatu conseguiu "fugir" da prisão sem saber que a morte o aguardava poucas horas mais tarde.
Atentado teria custado US$ 40 mil
De acordo com o inquérito da Promotoria de Investigação Criminal, hoje Gaeco, na época havia evidências de que o crime teria sido encomendado. Outros setores da sociedade falavam em crime político.
Nos dias que antecederam o julgamento, o advogado da família Rabelo, Oswaldo Loureiro de Mello Junior, concedeu entrevista ao jornal "Folha de Notícias" e disse que Dávila teria recebido US$ 40 mil para comandar a tentativa de assassinato frustrada, mas que conseguiu calar o político.
Outras fontes dizem que o total pago a "Tatu" foi de apenas US$ 20 mil, e que uma parte teria sido repassada a Sérgio Dávila. A História cabulosa não bate, as contradições são gritantes. Nem polícia, nem PIC, nem justiça. conseguiram, após 20 anos, oferecer uma resposta plausível a sociedade, e o crime continua envolto em mistério. Quem mandou matar Adilson Rabelo?
Esta é uma reprodução do Jornal (Mídia Impressa) Tribuna Popular - Edição 346, publicado na página 6 e 7