PURA VERDADE

"É pelos buracos na rua que se conhece o prefeito e os vereadores"

Esta frase circula, seja em conversas de bar, nos grupos de WhatsApp ou até estampada no para-choque. Um retrato fiel da realidade de muitas cidades brasileiras, inclusive Foz do Iguaçu

Algumas frases populares atravessam décadas justamente por carregarem em si uma carga de realismo que nenhum discurso político consegue apagar. É o caso da frase que circula, seja em conversas de bar, nos grupos de WhatsApp ou estampada no para-choque de algum caminhão que tenha se aventurado pelas crateras urbanas de Foz do Iguaçu: "É pelos buracos na rua que se conhece o prefeito e os vereadores."

Para quem mora na cidade, essa sentença já soa quase como um hino de resistência à negligência do poder público.

Historicamente, os para-choques de caminhão se transformaram em verdadeiros murais de crítica social e sabedoria popular. Com origem nas décadas de 1950 e 1960, essa tradição começou com carroças e evoluiu junto com o transporte de carga brasileiro, acompanhando os trabalhadores das estradas e suas vivências. As frases ali escritas - algumas cômicas, outras filosóficas - quase sempre trazem um fundo de verdade. E, quando a crítica se volta à política, ela costuma acertar em cheio.

Exemplo clássico disso é o já consagrado bordão: "Se depender de político, a gente anda a pé." Uma sentença que reflete o abandono das estradas, a omissão dos gestores públicos e o descaso com a infraestrutura básica - um retrato fiel da realidade de muitas cidades brasileiras, inclusive Foz do Iguaçu.

Mas quando o ditado muda o foco para a pavimentação urbana, ganhando uma entonação ainda mais direta - "É pelos buracos na rua que se conhece o prefeito e vereadores" - ele deixa de ser apenas uma crítica genérica e passa a ter nome e endereço.

A promessa do asfalto que virou buraco

Durante a campanha eleitoral, o atual prefeito de Foz do Iguaçu, General Silva e Luna, bateu insistentemente na tecla de que era especialista em obras e asfalto. Seu histórico militar, suas experiências administrativas e sua retórica técnica criaram uma expectativa razoável de que, ao menos na parte de infraestrutura, a cidade entraria nos eixos. Afinal, se alguém passou a vida lidando com construções e engenharia, era de se esperar um olhar técnico e eficaz para os problemas crônicos da malha viária da cidade.

Entretanto, já se passaram mais de seis meses de mandato, e o que se vê nas ruas de Foz é um cenário desolador. Buracos surgem a cada esquina, avenidas importantes estão deterioradas, e obras de recapeamento parecem ter sido feitas mais para a fotografia institucional do que para oferecer durabilidade.

Basta percorrer nos últimos 30 dias trechos da Avenida das Cataratas - uma das principais vias da cidade, que liga áreas turísticas e movimenta grande parte do comércio e do transporte - para constatar o descaso.

A ironia é que, mesmo diante de uma situação tão evidente, o silêncio e a omissão dos vereadores da base aliada do prefeito são ensurdecedores.

Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 417, Página 6, de autoria do Jornalista Enrique Alliana