Falcatruas em torno de cargos públicos não tem limites em Foz do Iguaçu
Por Tribuna Foz dia em Notícias

"Deus, Pátria, Família e Falcatrua"
Falcatruas em torno de cargos públicos não tem limites em Foz do Iguaçu
A devassa moral de Foz do Iguaçu em nome da velha política. O slogan ganhou um adendo sarcástico, porém trágico: “Deus, Pátria, Família e Falcatrua”. E não é por acaso
O lema “Deus, Pátria, Família e Liberdade”, amplamente propagado pelos representantes do Partido Liberal (PL), tem servido como escudo ideológico de um discurso moralista que se pretende conservador, ético e patriótico. No entanto, em Foz do Iguaçu, este slogan ganhou um adendo sarcástico, porém trágico: “Deus, Pátria, Família e Falcatrua”. E não é por acaso.
Falcatruas
Falcatruas em torno de cargos públicos parecem não ter fim na gestão pública da cidade. Um dos exemplos mais simbólicos – e vergonhosos – envolve o vereador Cabo Cassol (PL) e seu ex-assessor Adilson Ramão, que por anos ocupou cargo comissionado na Câmara de Vereadores mesmo sendo alvo de denúncia por uso de documento falso para obtenção de função pública. As denúncias vieram à tona através de rumores ainda em 2021, mas em vez de promover o afastamento imediato ou qualquer investigação interna, Cassol manteve seu homem de confiança no cargo por mais de cinco anos.
Durante os anos de 2021, 2022, 2023, 2024 e parte de 2025, Adilson Ramão seguiu como assessor, com salário pago pelo povo iguaçuense. A apatia institucional foi gritante. A Câmara de Vereadores, o Ministério Público e até a Polícia Civil se limitaram a procedimentos protocolares que nunca culminaram em uma responsabilização efetiva até o momento. Mais preocupante ainda é que esse silêncio institucional sugere, no mínimo, conivência política ou negligência proposital.
Cidade onde tudo tem preço e ninguém atua de graça
Quando finalmente a exoneração aconteceu, a pergunta que pairava no ar era: por que só agora? A resposta pode estar no jogo de bastidores entre o Executivo e o Legislativo de Foz do Iguaçu, onde tudo tem preço e ninguém atua de graça, como diz o velho ditado popular.
Não por acaso, Cabo Cassol é o líder do prefeito General Silva e Luna na Câmara. Um cargo de influência que serve para articular as votações de interesse do Executivo dentro do Parlamento. E como moeda de troca, o vereador precisa manter seu grupo político intacto – mesmo que à custa do interesse público. Quando não se pode nomear diretamente um aliado, nomeia-se um parente. E assim foi feito.
Nova nomeação
No Diário Oficial do Município, edição Nº 5.228, de 22 de maio de 2025, aparece a nomeação de Gabrielli Ramão para o cargo de Assessor I, lotada na Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Gabrielli não é uma cidadã qualquer. Trata-se da filha de Adilson Ramão, o mesmo que foi denunciado por falsidade ideológica e ocupou ilegalmente um cargo por anos. A nomeação da filha parece ter sido a solução para manter o grupo político coeso, mesmo após a exoneração do pai.
Essa manobra escancara o uso de cargos públicos como instrumentos de barganha política e a transformação da máquina pública em cabide de empregos, algo que remete diretamente aos tempos sombrios da gestão de Reni Pereira, ex-prefeito de Foz do Iguaçu que, junto com secretários, diretores e vereadores, foram presos em operações da Polícia Federal por corrupção ativa, passiva, fraudes em licitações e organização criminosa.
Lembrando que dois vereadores da atual legislatura foram presos pela Policia Federal, um é o vereador Beni Rodrigues e a outra é a Vereadora Anice Gazzaoui.
"Deus, Pátria, Família e Falcatrua"
População assiste perplexa à deterioração da ética na política local
"Deus, Pátria, Família e Falcatrua" não pode ser o lema de uma cidade que deseja progresso, justiça e dignidade
A repetição de velhas práticas sob novas figuras públicas mostra que a “nova política” defendida pelos autoproclamados patriotas não passa de um verniz moral para disfarçar os mesmos esquemas de sempre. O slogan “Deus, Pátria e Família” serve de cortina de fumaça para práticas políticas que beiram o nepotismo disfarçado, o clientelismo descarado e o aparelhamento da administração pública.
O mais estarrecedor, porém, é o comportamento do Ministério Público, que segue inerte. Um cientista político, que preferiu manter o anonimato, sugeriu inclusive que pode haver conivência da instituição com os esquemas em curso. A ausência de investigação aprofundada, a lentidão nos processos e o arquivamento precoce de denúncias graves levantam sérias suspeitas sobre a imparcialidade e a independência do órgão.
Enquanto isso, a população de Foz do Iguaçu assiste perplexa à deterioração da ética na política local. Para muitos, a eleição do General Silva e Luna representava a moralização da gestão pública. Com uma carreira militar, esperava-se dele rigor, disciplina e combate à corrupção. No entanto, o que se viu foi uma continuidade da velha política de favores, alianças espúrias e acordos de bastidores. A aliança com figuras como Cabo Cassol, envolvido em tantos escândalos, é prova disso.
A gestão atual da cidade tem se mostrado uma verdadeira reencarnação dos piores momentos da política local, com uma elite de servidores e políticos que perpetua suas estruturas de poder através do uso estratégico de cargos públicos. A população, que paga impostos altíssimos e convive com serviços precários, buracos nas ruas, falta de medicamentos e ausência de investimentos estruturais, é quem banca o salário de apadrinhados políticos que nada contribuem para a melhoria do município.
O uso da fé, da moral e da retórica conservadora para legitimar práticas corruptas é uma das maiores perversões políticas que se pode observar. Quem usa o nome de Deus para praticar injustiças ou para proteger aliados desonestos comete, além de crime administrativo, uma blasfêmia ética.
Diante de tudo isso, cabe à população de Foz do Iguaçu se mobilizar. A imprensa local precisa manter o foco e denunciar com coragem. O Ministério Público deve ser cobrado com veemência. E o Tribunal de Contas do Estado, bem como o Ministério Público Federal, precisam intervir. O silêncio institucional não pode continuar sendo cúmplice das falcatruas.
"Deus, Pátria, Família e Falcatrua" não pode ser o lema de uma cidade que deseja progresso, justiça e dignidade. Foz do Iguaçu merece mais. E enquanto a estrutura de poder estiver sendo usada para proteger corruptos e perpetuar privilégios, nenhum slogan moralista será capaz de esconder a podridão da política local.
Algumas perguntas ficam na mente dos eleitores. Por que os políticos fazem continuamente as coisas erradas quando as coisas certas são tão óbvias para todos os outros? Dito isso, por que esses mesmos políticos são eleitos quando é preciso haver pessoas melhores disponíveis para o trabalho?
Em alguns momentos, vemos políticos fazendo coisas inexplicavelmente ridículas, aparentemente por dinheiro. Afinal, sempre haverá dinheiro em políticas públicas, sejam elas boas ou ruins. Cabe os fiscalizadores fazer o seu papel que é nada mais e nada menos do que fiscalizar.
E a Câmara Municipal?
Com a nova legislatura, fica a dúvida: o slogan "Deus, Pátria, Família e Falcatrua" continuará valendo? O presidente da Casa é do Partido Liberal, o mesmo partido envolvido em recentes escândalos e nomeações questionáveis. A população precisa estar atenta: será que teremos uma Câmara comprometida com o interesse público ou apenas com acordos políticos e apadrinhamentos?
Quando o moralismo é só fachada, a falcatrua encontra terreno fértil para prosperar.
Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 418, Páginas 4 e 5, de autoria do Jornalista Enrique Alliana