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Falcatruas também na Câmara Municipal? Ex-assessor do Ver. Ranieri na mira da polícia

Por Tribuna Foz dia em Notícias

Falcatruas também na Câmara Municipal? Ex-assessor do Ver. Ranieri na mira da polícia
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"Deus, Pátria, Família e Falcatrua"

Falcatruas também na Câmara Municipal? Ex-assessor do Ver. Ranieri na mira da polícia

A denúncia envolve Leandro da Silva Pinto, ex-assessor do vereador Dr. Ranieri Marchioro, acusado de apresentar certificado falso de ensino médio para assumir o cargo na Câmara Municipal

Por muito tempo, o lema “Deus, Pátria e Família” foi entoado como símbolo de valores conservadores, moralidade e combate à corrupção. Tornou-se grito de guerra da direita bolsonarista, que se apresentava como a salvadora da política brasileira diante de uma esquerda corrupta e imoral. Mas a realidade tem mostrado que, por trás desse moralismo aparente, pode estar escondida uma face igualmente ou até mais perversa da política. Agora, em Foz do Iguaçu, esse lema ganha um novo complemento: “Deus, Pátria, Família e Falcatrua.”

Quando o moralismo é só disfarce

A denúncia mais recente envolve Leandro da Silva Pinto, ex-assessor do vereador Dr. Ranieri Marchioro, acusado de apresentar certificado falso de ensino médio para assumir o cargo na Câmara Municipal. O caso, identificado por auditoria interna da própria Casa Legislativa, acende mais um alerta sobre a hipocrisia institucionalizada por muitos que dizem defender a moralidade.

Mas antes de entrar nos detalhes do escândalo, é preciso olhar para o contexto político que o rodeia.

A “Nova Política” e seus velhos vícios

Após a onda bolsonarista, que prometia renovar a política com base na honestidade, no combate à corrupção e nos “valores da família”, Foz do Iguaçu também abraçou essa narrativa. Figuras como Bosco Foz e Dr. Ranieri Marchioro lideraram manifestações pedindo intervenção militar, se dizendo representantes da verdadeira moral iguaçuenese. Defenderam abertamente o general Silva e Luna, que encarnava o espírito de ordem e progresso que a direita tanto prometia trazer.

A campanha eleitoral, inflamada por discursos radicais, foi marcada por exclusão e ódio ideológico. Quem não compactuava com o pensamento da “família bolsonarista” era taxado de comunista, corrupto ou imoral. O jornalista Leandro da Silva Pinto, por exemplo, foi um dos que mais atacou adversários e instituições. Ameaçava publicamente e sucessivamente nas redes sociais as pessoas que não compactuavam com as suas ideologias, chegando ao ponto de acumular processos e condenações na Justiça. Agora, ironicamente, ele é o epicentro de uma denúncia que agora se transforma em caso de polícia.

E essa ironia não é um acaso. É resultado do que acontece quando se vende uma imagem de honestidade apenas para mascarar práticas que são exatamente o oposto. Como já dizia o provérbio atribuído a Júlio César: “À mulher de César não basta ser honesta, deve parecer honesta.” No Brasil, especialmente em Foz do Iguaçu, muitos políticos inverteram esse raciocínio: não basta parecer honesto – mesmo que se seja desonesto.

Auditoria revela suposta falsificação e desmascara o discurso

A auditoria realizada pela Câmara Municipal no início de 2025 revelou divergências no certificado de conclusão do ensino médio apresentado pelo Jornalista Leandro da Silva Pinto. O documento, que era pré-requisito para sua nomeação como assessor parlamentar, teria indícios de falsificação segundo a Secretaria de Educação do Estado.

Segundo o Relatório Final de Auditoria Interna da CMFI, "Quanto ao certificado de conclusão apresentado pelo assessor parlamentar Leandro da Silva Pinto, a equipe de auditoria constatou que o documento constante da pasta funcional não possuía o mesmo padrão daqueles costumeiramente expedidos pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná". Ainda segundo a auditoria, o documento apresentado por Leandro Pinto não constavam os anos que o aluno cursou, as séries do ensino médio, não tendo menção da data da emissão do documento, nem mesmo contendo os dados pessoais do aluno, como RG e CPF.

Certificado inidôneo

De pronto a equipe de auditoria solicitou ao Núcleo Regional de Educação de Curitiba, que verificasse a autenticidade do certificado de conclusão de ensino médio apresentado em nome de Leandro Pinto. Durante a tramitação da auditoria, o Núcleo Regional de Educação de Curitiba solicitou que o Colégio Estadual São Pedro Apóstolo se manifestasse quanto à autenticidade do histórico escolar apresentado. De pronto a instituição de ensino, por meio de despacho informou que o Certificado em questão é inidôneo. Portanto a auditoria é pela não comprovação da escolaridade mínima exigida para nomeação de Leandro Pinto como assessor parlamentar de Ranieri Marchioro.

Ainda na apuração, mesmo depois da exoneração do assessor, foi determinado o envio do caso ao Ministério Público e à Polícia Civil para as providencias legais.

 

 "Deus, Pátria, Família e Falcatrua"

A nova política é só a velha política com outro uniforme?

Quantos são os “Leandros” que fazem parte do aparato político, protegidos por alianças partidárias, interesses eleitorais e discursos vazios?

A atitude da presidência da Câmara, atualmente nas mãos de Paulo Debrito (PL), até foi correta nesse ponto. Mas levanta-se a questão: por que só agora isso foi descoberto? O caso é ainda mais estarrecedor porque não é inédito. Anos antes, o então vereador Cabo Cassol manteve um assessor com documentação inidônea por mais de cinco anos, sem qualquer consequência imediata.

Será que a Casa de Leis está sendo ocupada por indivíduos que, sob o disfarce de moralidade, veem o setor público como trampolim para interesses próprios? A pergunta não é retórica. A resposta, embora desconfortável, parece cada vez mais evidente.

Direita ou esquerda? A corrupção é transversal

Durante muito tempo, a direita se apresentou como imune à corrupção, atribuindo todos os males à esquerda. No entanto, a história recente mostra que a corrupção não tem ideologia. Está enraizada em práticas de poder que atravessam partidos, crenças e discursos. O caso Leandro da Silva Pinto é mais uma peça nesse quebra-cabeça de hipocrisia.

Afinal, se quem gritava “fora corrupção” nas ruas está agora sob investigação por fraudes documentais, como levar a sério o moralismo que pregavam?

Quando a moralidade é usada como instrumento de marketing político, ela se torna perigosa. Permite que criminosos se travestam de paladinos da justiça, enquanto operam nos bastidores exatamente o que condenam em público. É um tipo de corrupção ainda mais nociva porque engana a fé pública, destruindo o que resta de confiança na democracia.

O papel do controle interno e o desafio da fiscalização

É necessário destacar o trabalho da auditoria interna da Câmara de Vereadores, que mesmo diante de resistências, conseguiu identificar a irregularidade. Isso mostra que, quando os mecanismos de controle funcionam, há uma chance de responsabilização e correção de rumos.

Por outro lado, também escancara a fragilidade dos processos anteriores, quando as nomeações eram feitas de forma menos rigorosa e digitalmente arcaica. A modernização implantada em 2025 ajudou a detectar falhas, mas o dano já estava feito. Por quanto tempo esse assessor esteve no cargo recebendo salários públicos com documentação supostamente falsa?

E mais: quantos outros podem estar na mesma situação sem que saibamos? Quantos são os “Leandros” que fazem parte do aparato político, protegidos por alianças partidárias, interesses eleitorais e discursos vazios?

A nova política é só a velha política com outro uniforme?

O caso de Foz do Iguaçu é simbólico. Mostra que a tal “nova política” propagada pelo bolsonarismo pode ser apenas a velha política, com farda militar, slogans religiosos e bandeiras nacionalistas. E talvez ainda mais perigosa, porque se esconde atrás de símbolos sagrados para o povo brasileiro.

Usar “Deus” como escudo, a “Pátria” como bengala e a “Família” como muleta moral não livra ninguém da responsabilidade dos seus atos. Pelo contrário, instrumentalizar essas ideias para esconder falcatruas é uma afronta à fé, ao civismo e à dignidade da sociedade.

Hora de desmascarar os falsos moralistas

O escândalo envolvendo o ex-assessor do Vereador Ranieri Marchioro é apenas a ponta de um iceberg de incoerências e hipocrisias. Mostra que os gritos contra a corrupção, quando vêm de quem está disposto a falsificar documentos para ter acesso ao poder, não passam de cinismo.

Se a política de Foz do Iguaçu quer realmente mudar, precisa ir além dos slogans. Precisa exigir transparência, ética verdadeira e coerência entre discurso e prática. E isso vale para todos, da direita à esquerda, sem exceções.

O povo, que tantas vezes foi enganado por palavras bonitas e promessas de moralidade, merece mais. Merece uma política sem falcatrua, que respeite de verdade os valores que diz defender. Porque de nada adianta gritar “Deus, Pátria e Família” com uma mão, e com a outra, assinar documentos falsos para roubar o dinheiro público.

A frase da vez, infelizmente, continua sendo atual: "Na política, não basta parecer honesto, é preciso ser — e deixar que investiguem." Quem não deve, não teme. Mas quem teme, normalmente, é porque já deve.

Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 418, Páginas 6 e 7, de autoria do Jornalista Enrique Alliana

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