Fidelidade partidária bota cabresto nos vereadores de Foz
Por Tribuna Foz dia em Notícias

PL EM XEQUE?
Fidelidade partidária bota cabresto nos vereadores de Foz
Resolução Nacional exige alinhamento, mas bastidores revelam alianças paralelas
A política brasileira sempre viveu uma tensão permanente entre duas forças: de um lado, a disciplina partidária, vendida como um pilar da democracia representativa; do outro, os arranjos de bastidores, acordos pragmáticos e a famosa "infidelidade útil", onde parlamentares negociam apoios conforme a conveniência eleitoral ou pessoal.
Em Foz do Iguaçu, essa tensão ganhou novos contornos após a publicação da Resolução Administrativa nº 10/2025 do Diretório Nacional do Partido Liberal (PL). O documento, em tom quase militar, determinou: fidelidade absoluta ao partido, sem concessões, sem meias palavras, sem desvios. Uma ordem seca e direta "ou está conosco, ou está fora".
O problema é que a política local raramente obedece a tais decretos. No município, os cinco vereadores do PL parecem mais inclinados a praticar a chamada "dupla militância emocional", aquela em que o coração e os interesses já pertencem a outros grupos políticos, mesmo que o crachá ainda exiba as letras PL. E aqui reside o dilema: até onde vai a disciplina partidária quando os bastidores oferecem mais dividendos que a obediência ao diretório nacional?
O cabresto e a realidade
A resolução não deixa dúvidas: quem se atrever a apoiar candidatos de outras legendas, seja clara ou veladamente, estará sujeito a punições que vão de advertência à expulsão. O texto soa como um cabresto jurídico, amarrando os eleitos à estrutura partidária em nome de uma coerência muitas vezes mais formal do que real. A justificativa é simples: o PL gastou pesado nas eleições de 2024, usando recursos do fundo eleitoral para montar uma chapa competitiva em Foz. Assim, exigir disciplina seria uma forma de proteger o investimento político e financeiro.
Mas a lógica do diretório nacional encontra resistência na prática iguaçuense. A Câmara Municipal de Foz é um caldeirão de vaidades, interesses pessoais e microalianças. E, ao contrário do que pensa a cúpula do PL, a política não é feita apenas de estatutos, mas de sobrevivência.
Movimentos
Esses movimentos não são meros cochichos de corredor: eles revelam que os vereadores de Foz vivem em múltiplos mundos, transitando entre legendas, interesses e padrinhos políticos, como quem troca de gravata conforme a ocasião.
O peso das sanções
No papel, as sanções previstas são duras. Advertência, suspensão, perda de cargos em comissões, expulsão e, em casos extremos, até a perda do mandato por infidelidade partidária. A ameaça é real, mas resta a pergunta: o PL teria coragem de aplicar punições exemplares em Foz do Iguaçu? Ou prefere fingir que não vê, para não abrir rachaduras maiores dentro da própria base?
Expulsar vereadores eleitos sob a legenda seria, em certo sentido, admitir que o partido fracassou em manter a coesão. Por outro lado, não punir seria assinar embaixo do oportunismo político e decretar a falência da tal "disciplina interna". Eis o impasse.
O risco da fragmentação
Em meio a esse cenário, figuras históricas como o deputado federal Fernando Giacobo (PL) podem sair enfraquecidas. Afinal, como liderar uma tropa que não atende ordens? A fragmentação interna ameaça também novos projetos, como o nome de Deoclécio Duarte, apontado como pré-candidato a deputado estadual pelo PL. Se a base municipal estiver dividida, a candidatura pode naufragar antes mesmo de zarpar.
O risco maior, porém, não é apenas eleitoral. É simbólico. A resolução que deveria unir o partido pode se transformar em catalisador de disputas internas, gerando ressentimentos e até mesmo estimulando migrações partidárias no futuro. O efeito pode ser o inverso: ao tentar amarrar os vereadores ao cabresto, a direção nacional pode empurrá-los de vez para os braços de outras legendas.
PL EM XEQUE?
Vereadores de Foz do Iguaçu vivem em múltiplos mundos
As fissuras internas
A lista de movimentações paralelas é reveladora:
Cabo Cassol (PL), líder do prefeito na Câmara, já demonstrou proximidade com o deputado Sargento Fahur (PSD). Nada contra alianças estratégicas, mas, diante da nova resolução, esse flerte soa quase como adultério político.
Adriano Rorato (PL), discreto, mas não menos estratégico, mantém pontes com os Vermelhos, pai e filho, do PP. Um movimento que mostra como o pragmatismo local costuma falar mais alto que qualquer estatuto.
Paulo de Brito (PL), presidente da Câmara, é visto como um dos principais cabos eleitorais do vice-prefeito Ricardinho (PSD). Se fidelidade fosse testada por detector de mentiras, o aparelho já teria explodido.
Soldado Fruet (PL), ex-deputado estadual, aproxima-se da família Wandscher, distribuída entre PP e Solidariedade. Uma relação que sugere mais afinidade pessoal do que partidária.
Bosco Foz (PL), líder dos que ficavam na frente do quartel pedindo intervenção militar, mantém diálogo aberto com Hussein Bakri (PSD), homem forte do governo Ratinho Jr. na Assembleia. É como se já estivesse ensaiando novos palcos.
O jogo de cena
O fato é que resoluções como a nº 10/2025 servem muito mais como peça de retórica do que como instrumento prático de controle. Funcionam como um recado público: "olha, estamos de olho". Mas, na prática, todos sabem que o sistema político brasileiro foi construído sobre a arte da negociação. E, nesse tabuleiro, os vereadores de Foz são apenas jogadores habilidosos, tentando sobreviver e garantir espaços.
A fidelidade partidária, tão proclamada nos discursos, continua sendo relativa, quase uma fábula moral. Exige-se dos vereadores que sejam fiéis, mas na outra ponta os partidos, quando convém, fecham alianças improváveis, apoiam governos contraditórios e vendem cargos em nome da governabilidade. Quem, afinal, trai primeiro: o vereador que busca diálogo fora do partido, ou o partido que negocia com adversários em nível nacional e estadual?
Entre a disciplina e o improviso
A resolução de cabresto do PL coloca os vereadores de Foz do Iguaçu diante de um dilema: obedecer à disciplina partidária, arriscando perder espaço local, ou seguir os movimentos de bastidor, arriscando a punição do partido. Nenhuma das escolhas é simples. No fundo, trata-se de uma disputa clássica entre teoria e prática.
Se a disciplina fosse realmente rígida, talvez tivéssemos partidos mais coesos e programas mais claros. Mas, na realidade brasileira, a infidelidade é quase um modus operandi. É parte do DNA político nacional. Em Foz, não é diferente.
Fidelidade seletiva
No fim das contas, a fidelidade partidária em Foz do Iguaçu parece ser menos uma questão de princípios e mais uma questão de conveniência. Os vereadores do PL já demonstraram que transitam em várias direções, e dificilmente uma resolução nacional será capaz de mudar esse cenário.
O cabresto pode até existir no papel, mas na prática o cavalo já está solto, correndo em múltiplos pastos. O desafio do PL será decidir se puxa as rédeas com força e arrisca a queda, ou se finge que não vê e deixa o animal seguir no improviso. Seja qual for a escolha, uma coisa é certa: a fidelidade partidária em Foz do Iguaçu continua sendo um mito, uma promessa que se dissolve na primeira esquina dos bastidores políticos.
Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 421, Páginas 10 e 11, de autoria do Jornalista Enrique Alliana