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"Itaipu virou as costas para os pescadores e ribeirinhos do lago"

Por Tribuna Foz dia em Notícias

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BOMBA NA TAIPA

"Itaipu virou as costas para os pescadores e ribeirinhos do lago"

Declaração bombástica é do vereador José Cirineu Machado (PT) que denuncia descaso da Itaipu com pescadores e crime ambiental

Em abril de 1981, quando a ditadura militar dava sinais de cansaço, milhares de agricultores da região Oeste, que um ano mais tarde teriam suas terras inundadas pelo reservatório da hidrelétrica, promoveram uma marcha histórica em direção à Itaipu, mas foram impedidos de acampar no Centro Executivo sob ameaça de fuzis e baionetas caladas.

Novembro de 2024: passados mais de 40 anos, quando a ditadura já foi morta e sepultada por partidos de oposição (principalmente o PT), outro movimento está surgindo na mesma região e suas lideranças poderão fazer nova marcha contra a empresa, desta vez administrada pelo todo-poderoso Enio Verri, do próprio PT. A denúncia sobre o descaso com os pescadores partiu do vereador José Cirineu Machado (PT) que usou a tribuna da Câmara de Guaíra no dia 05/11/2024, para denunciar as "promessas falsas" de dirigentes da Itaipu, o "pouco caso" com os pescadores e ribeirinhos, e até mesmo crime ambiental na área da própria Itaipu.

José Cirineu disse ter conversado com o próprio Enio Verri sobre as políticas equivocadas da empresa contra essa categoria "que perdeu seu sustento quando da formação do reservatório, que acabou com a maioria dos peixes, fontes de renda de pescadores ribeirinhos".]

Cansados das promessas vãs e dos arroubos da atual diretoria, capitaneada por Enio Verri, eles poderão se deslocar em marcha até Foz do Iguaçu e acampar no Gramadão, ao lado do luxuoso gabinete do poderoso "tzar".

AMEAÇA REAL E IMEDIATA

"Queremos mostrar hoje a nossa indignação contra a falta de atenção da Itaipu para com os pescadores e ribeirinhos de Guaíra e outros municípios lindeiros ao reservatório. Estamos cansados das promessas, a paciência transbordou", disse o vereador Cirineu na tribuna da Câmara.

Cirineu exibiu no telão alguns vídeos de lideranças das colônias de pescadores mostrando que já ocorreu assembleia geral da categoria aprovando a marcha até Foz do Iguaçu, com o objetivo de resgatar seus direitos e balançar as estruturas da poderosa binacional. A data da manifestação será definida nos próximos dias.

Denúncia de crime ambiental será levada ao Ministério Público

Em outro vídeo exibido na Câmara, o vereador José Cirineu denunciou o que ele classifica como um crime ambiental em terras da Itaipu, provocando a mortandade de peixes e riscos à saúde da população.

O vereador filmou um córrego poluído, tomado pelo capim colonião, por onde corre esgoto e lixo: "Aqui tinha peixe, morenita, tinha vida e hoje está tomado pelo mato, com a água poluída. Fiz denúncias à Itaipu, prometeram enviar um drone para identificar o problema, mas esqueceram que drone não faz roçada e nem acaba com a poluição", diz o vereador.

Cirineu afirma ter feito a denúncia junto à Sanepar, que também não tomou providências. "Agora vamos levar essa denúncia ao Ministério Público".

CUTUCANDO O "TZAR"

"Vamos acampar no Gramadão da Itaipu em busca de nossos direitos"

Garantia é do líder dos pescadores que chamou Enio Verri de Robin Hood ao contrário. "Se não formos atendidos, iremos falar com o presidente Lula"

O primeiro vídeo exibido pelo vereador José Cirineu Machado mostra o depoimento forte do líder dos pescadores, qual afirmou ser presidente do Instituto Rios de Guaíra.

Seu depoimento é contundente e corajoso, afinal, ninguém ousou desafiar o poderoso "tazar" da Itaipu Binacional. "Estamos cansados de promessas e enganações, falar não adianta mais. Agora vamos fazer um levante e marchar sobre a Itaipu", afirmou.

Ele disse ser pescador remanescente das ilhas que foram submersas pelo reservatório da Itaipu em 1982. "Desde que o lago foi formado, os peixes ficaram cada vez mais escassos e hoje a maioria dos pescadores vivem abaixo da linha da pobreza", acrescentou.

Bastante indignado, o líder acrescenta: "pescadores das colônias ao longo do reservatório e também o pessoal da agricultura familiar só recebem promessas da Itaipu. Em vez de assumir a responsabilidades por essas famílias ribeirinhas que tiveram suas atividades reduzidas com o enchimento do lago, ficam enviando dinheiro para as grandes metrópoles e outros estados, só para aparecer na mídia".

ROBIN HOOD

"O atual diretor da Itaipu, Enio Verri, está fazendo o papel de Robin Hood às avessas: tira dos pescadores e das comunidades emergentes, vítimas da formação da barragem, para atender os poderosos. Isso está errado, vamos fazer valer os nossos direitos", afirma.

O líder dos pescadores garante que a marcha até a sede da Itaipu foi aprovada em assembleia geral e que os pescadores de várias cidades acompanharão o movimento. "Vamos acampar na Itaipu pelo tempo que for preciso e se não formos atendidos, iremos até Brasilia falar com o presidente Lula".

Mais adiante, o líder dos pescadores ameaça: "Essa diretoria da Itaipu não ouve nossos apelos. Entra por ouvido e sai pelo outro, enquanto gastam fortunas, fazendo cortesia com o chapéu alheio. Se a gente acampar lá, a grande mídia vai acompanhar e ficar sabendo que eles não atendem os pescadores e ribeirinhos que estão passando necessidades. Será uma grande marcha, Foz do Iguaçu vai estremecer".

Dinheiro para o MST

Mais dois vereadores fizeram coro com as denúncias de José Cirineu. O vereador Sandro Sabino, do PSDB disse que precisa acabar com a falta de responsabilidade com o meio ambiente, principalmente em áreas sensíveis como as reservas da Itaipu. "Precisa identificar quem está poluindo nossos rios e tomar as providências".

Já o vereador Valberto Paixão, do PL, foi ainda mais cáustico. "Itaipu liberou R$ 81 milhões para o MST e não atende aos anseios dos pescadores e ribeirinhos".

E prosseguiu: "As imagens desse esgoto são chocantes. Itaipu deveria ser exemplo para o planeta em conservação ambiental, mas não cumpre o seu papel. Se um pescador corta um galho de árvore ficam multando".

MISÉRIA

Com escassez de peixes no lago, pescadores buscam novas profissões

Os principais peixes, como dourado, pintado e surubim, desapareceram e os pescadores viraram pedreiros e plantadores de mandioca

Quando a Itaipu Binacional formou o reservatório, havia a promessa de que os pescadores teriam toda a assistência necessária para a sobrevivência. Tudo ficou na promessa.

É preciso frisar que durante a formação da represa, o habitat dos peixes é drasticamente alterado. Deixa de ser um rio para se tornar uma imensa lagoa - muitas vezes estéril e com poucos nutrientes. Logo após a formação do reservatório, dourados, pintados e surubins desapareceram. O dourado praticamente foi exterminado porque subia as cachoeiras de 7 Quedas para desovar. Itaipu sepultou as 7 Quedas.

Durante o XVIII Encontro Nacional de Geólogos, realizado em junho de 2016, sobraram críticas ao papel da Itaipu em relação aos pescadores.

Um relatório robusto distribuído durante o encontro, revela que pescadores afirmaram em entrevista que a sua profissão outrora uma opção gratificante de trabalho estava com os dias contados após a formação do lago. Outros afirmam que nos dias atuais a profissão é uma forma alternativa de "ganhar a vida".

"A atividade da pesca é, para alguns, a única alternativa de trabalho e, por conseguinte, a única garantia de sobrevivência familiar; para outros, é resultado não apenas das adversidades sofridas durante a vida da família, mas uma escolha por um modo de vida", diz o documento.

E acrescenta: "Existem ainda aqueles pescadores que estão desestimulados com a atividade de pesca e que pretendem abandoná-la, mas o principal motivo levantado foi a escassez do pescado visto como uma crise ambiental".

O documento cita um levantamento da própria Itaipu em parceria com a UEM, mostrando que a porcentagem de pescadores que se dedicaram exclusivamente à pesca foi 17,5% em 2011. Esse tanto foi acentuadamente inferior ao registrado no ano de 2008 (45,8%). Em 2005, este contingente era de 53,0%, em 2004 de 55,1%, em 2003 de 57,0% e em 2002 de 64,0%.

"Assim, verifica-se uma redução na dedicação exclusiva à pesca. Percebe-se que a pluriatividade é uma constante entre os pescadores da Colônia Z11, pois como a pesca exclusiva não possibilita a garantia de sobrevivência para a maioria dos pescadores, é preciso desenvolver outras atividades". Mais adiante, o relatório destaca: "Foi possível identificar, pelos relatos e pela observação a campo, outras atividades sendo desenvolvidas por pescadores, como: pedreiro, diaristas no campo ou nas vilas, apicultor, produtor de leite e produtor de fumo e mandioca".

Piracema

"Ressalta-se que o principal desafio, caracterizado como problema ambiental da comunidade pesqueira, consiste em delimitar o acesso aos espaços e aos recursos diante de um ambiente imprevisível, pois, com o fechamento das comportas da Usina de Itaipu, para o aumento da produção de energia elétrica, ocasiona o rebaixamento do lago, o que na época da desova (ou piracema, entre os meses novembro a fevereiro) provoca a queda do estoque pesqueiro porque dificulta a desova como mencionado anteriormente", finaliza.

Itaipu corre atrás do prejuízo

A denúncia do vereador José Cirineu Machado foi feita na tribuna da Câmara no dia 05 de novembro de 2024. Em 12 de novembro, Itaipu se apressou em lançar um release anunciando um convênio de R$ 9 milhões para beneficiar pescadores.

Detalhe:

A cerimônia foi realiza da no litoral do Paraná e a maior parte dos investimentos irão para o litoral. Claro que Itaipu levou algumas lideranças da região do lago para o famoso "cala-boca".

"O convênio terá vigência de 33 meses e abordará a gestão da pesca artesanal e aquicultura familiar, oferecendo assessoria técnica e administrativa, além da gestão de informações socioeconômicas e ambientais para o setor pesqueiro paranaense e de 35 municípios do Mato Grosso do Sul, atendidos pelo programa Itaipu Mais que Energia", diz o release.

O Parquetec da Itaipu faz parte do convênio e deverá fazer mais um de seus projetos mirabolantes. Como sempre, a parte do leão ficará com os autores do projeto, enquanto os pescadores ficarão com as migalhas. E viva a farra do boi.

Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 399, páginas 3, 4 e 5 de autoria do Jornalista Enrique Alliana

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