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Lula x Trump: como aproximação pode mudar rumos dos automóveis no Brasil

Por Tribuna Foz dia em Notícias

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Lula x Trump: como aproximação pode mudar rumos dos automóveis no Brasil

A expectativa de um acordo comercial entre Brasil e EUA tem feito os mais otimistas sonharem. No mercado automotivo, há quem espere ver nas ruas brasileiras um número crescente de picapes e SUVs norte-americanos, como Ford F-150 e Chevrolet Tahoe, disputando espaço com modelos nacionais. Ou, por outro lado, empresas nacionais ampliando fábricas e exportando mais autopeças.

Sim, os dois cenários são bem otimistas, mas podem estar um pouco mais próximos da realidade caso o acordo comercial avance de fato. A pergunta é: isso seria mesmo positivo e plausível para o setor automotivo nacional?

Acordos na mesa

Para especialistas ouvidos por UOL Carros, o novo alinhamento entre Lula e Trump pode ter impactos profundos, tanto positivos quanto negativos, na indústria automotiva nacional. Tudo vai depender da forma como as negociações comerciais forem conduzidas.

Segundo Luciano Bravo, especialista em macroeconomia e internacionalização, um acordo entre Brasil e EUA pode atrair novos investimentos em fábricas e pesquisa, além de facilitar exportações de veículos e autopeças.

"Mas há também o risco de uma concorrência interna mais acirrada, caso o Brasil reduza tarifas de importação e permita maior entrada de veículos americanos, o que pressionaria montadoras focadas no mercado doméstico", alerta.

O ponto de atenção é justamente esse: abrir o mercado para os EUA pode significar, na prática, expor as montadoras brasileiras a uma competição desigual, especialmente em segmentos populares e de baixo custo.

Mas não é tão simples?

Apesar do histórico protecionista de Trump com a indústria norte-americana, isso não o impede de pressionar para que o Brasil reduza tarifas de importação, principalmente sobre veículos eletrificados, segmento onde os EUA buscam recuperar espaço frente à China.

A advogada Carol Monteiro de Carvalho, especializada em comércio internacional, lembra que o Brasil, como membro da OMC (Organização Mundial do Comércio), teria de estender qualquer benefício dado aos EUA a outros parceiros - como China e União Europeia - a menos que feche um acordo comercial específico com os americanos. "Esse cenário não é impossível, mas exige negociações técnicas delicadas", pondera.

Já César Albuquerque, advogado e consultor jurídico, acrescenta outro fator: a relação do Brasil com o Mercosul e com a China, que não pode ser negligenciada. "Conceder benefícios tarifários unilaterais aos EUA pode gerar contenciosos com outros mercados e desequilibrar acordos já firmados", diz.

Brasil no meio do fogo cruzado

No mundo dos veículos elétricos e híbridos, o Brasil é hoje um território de intensa disputa entre China e EUA. Enquanto marcas chinesas como BYD dominam o mercado de elétricos, os Estados Unidos podem buscar espaço por meio de acordos e incentivos.

A reaproximação com Trump pode reposicionar o Brasil como um hub regional de veículos eletrificados, com foco em autopeças de alto valor agregado, como motores elétricos e baterias.

A advogada Rita de Cássia Biondo acredita que o país pode ganhar protagonismo se souber aproveitar a "janela de oportunidade" que se abre com a mudança geopolítica. "Mas os ganhos não são automáticos. Eles exigem negociação técnica e uma política industrial sólida", alerta.

Quem ganha e quem perde?

Em um eventual avanço nas negociações comerciais entre Brasil e EUA, alguns setores da indústria automotiva podem sair na frente. Veja o resumo:

Ganham:

Fabricantes de autopeças voltados à exportação;

Fornecedores de tecnologias para veículos elétricos;

Empresas integradas a cadeias globais, com foco em inovação;

Montadoras que importam carros dos EUA, como Ford e Jeep

Perdem:

Montadoras nacionais, voltadas ao mercado interno;

Empresas dependentes da cadeia produtiva chinesa;

Fabricantes que não investiram em eletrificação.

Segundo Carol Monteiro, os projetos de baterias, minerais críticos e integração com a indústria americana podem gerar incentivos e capital fresco, desde que o Brasil alinhe seus interesses regulatórios com os dos EUA. A especialista explica que esse momento representa uma disputa estratégica entre potências, e o Brasil precisa se posicionar com clareza para não se limitar ao papel de mercado consumidor.

E o mercado, já sentiu o impacto?

Ainda é cedo para medir impactos concretos no setor produtivo, mas o mercado financeiro reagiu rapidamente: o Ibovespa subiu e o dólar caiu após o anúncio da reaproximação diplomática. A expectativa é que, se houver desdobramentos concretos em tarifas ou incentivos, os efeitos apareçam em áreas como custo de produção, exportações e investimentos até 2026.

"Hoje, o setor observa com cautela. Há uma expectativa realista de mudanças no médio prazo, principalmente se o Brasil conseguir transformar o diálogo político em ações comerciais", diz Rita de Cássia.

E o consumidor? Vai sentir no bolso?

Provavelmente, sim, mas com nuances. Caso o mercado brasileiro se abra mais para os veículos americanos, é possível que vejamos maior variedade de modelos, principalmente SUVs, picapes e híbridos plug-in. No entanto, a entrada desses veículos pode pressionar os preços locais, mas não se sabe até onde a indústria nacional vai aguentar.

"Não será uma transformação da noite para o dia", afirma César Albuquerque. "Mas o consumidor brasileiro tende a se beneficiar com mais opções, mais tecnologia e, em alguns casos, preços mais equilibrados."

Fonte: Uol

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