Pai denuncia cobrança indevida em Escola Estadual de Foz do Iguaçu
Por Tribuna Foz dia em Notícias
COBRANÇA INDEVIDA
Pai denuncia cobrança indevida em Escola Estadual de Foz do Iguaçu
Quando o direito à educação esbarra na falta de transparência
A denúncia feita por um pai de aluno da Escola Estadual Barão do Rio Branco, em Foz do Iguaçu, reacende um debate antigo, porém sempre urgente: até onde vai a responsabilidade do Estado e onde começa o abuso institucionalizado dentro das próprias escolas públicas? A postagem, divulgada nas redes sociais pelo jornalista Ed Queiroz, revelou que a escola estaria cobrando R$ 35,00 de alunos do Ensino Médio e R$ 25,00 do Fundamental para adquirir uma apostila de recuperação. Uma cobrança que, segundo o denunciante, além de indevida, vem acompanhada de intimidação.
O caso, infelizmente, não é isolado. Apesar de a Constituição e a LDB garantirem a gratuidade do ensino público, ainda é comum que unidades escolares encontrem maneiras de repassar custos aos alunos ou às famílias, muitas vezes sob o argumento de "falta de repasses" ou "ausência do Estado". No entanto, a legalidade não se dobra à conveniência. Se o Estado não fornece materiais, cabe à escola denunciar a insuficiência de recursos, não repassar a conta para pais e estudantes, ainda mais sob ameaça, como relatado.
O pai afirma ter procurado todos os órgãos possíveis: Secretaria Municipal de Educação, Secretaria Estadual, NRE, Procon e até a Polícia Civil, onde registrou boletim de ocorrência. O fato de nada ter acontecido até o momento revela um problema ainda maior que a suposta cobrança.
A sensação de abandono institucional. Quando um cidadão, cumprindo seu dever de fiscalizar e exigir seus direitos, tenta acionar todos os canais e não recebe resposta, o recado que fica é desolador: reclamar não adianta.
Nas redes sociais, as reações foram diversas. Para alguns, como Tathiana Guimarães, a denúncia é um exemplo de cidadania, embora quem denuncia acabe sendo "apedrejado" por quem concorda ou discorda da cobrança. Ela lembra algo fundamental: o Estado oferece cadernos, lápis e outros materiais. Por que, então, justamente uma apostila de recuperação deveria ser paga? Por que não há clareza sobre onde são aplicados os recursos que a escola afirma não receber? Por que a própria direção não denuncia a falta de verbas, preferindo repassar os custos à comunidade escolar? A resposta mais plausível é simples e triste: medo da retaliação.
Outros, como Gisele Rodrigues, apontaram o cerne da questão: não se trata do valor, mas da ilegalidade. Já o comentário de Peixoto Peixoto vai direto ao ponto: se o colégio é público, não há justificativa para qualquer cobrança, e normalizar esse tipo de prática é abrir a porta para a corrupção cotidiana, aquela que começa pequena, silenciosa, mas que se perpetua justamente porque ninguém confronta.
O episódio expôs não apenas uma possível irregularidade, mas também a omissão de quem deveria fiscalizar e proteger o direito dos estudantes. Pior: expôs o medo das famílias, que muitas vezes preferem o silêncio para evitar retaliações contra seus filhos. A educação, que deveria ser um espaço de inclusão, segurança e respeito, não pode se tornar um ambiente onde a denúncia vira motivo de perseguição.
Mais do que apurar responsabilidades neste caso específico, é urgente que o Estado cumpra aquilo que promete e que as escolas sejam transparentes em sua administração. A cobrança de R$ 25 ou R$ 35 pode parecer pequena, mas representa algo muito maior: o risco de transformar o ensino público em um serviço pago por baixo dos panos. E esse, definitivamente, não é o país que os pais, alunos e cidadãos querem, ou merecem.
Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 424, Página 10, de autoria do Jornalista Enrique Alliana

