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Prefeitura paga estacionamento de seus funcionários com dinheiro público

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ESTACIONAMENTO VIP

Prefeitura paga estacionamento de seus funcionários com dinheiro público

Quando o conforto do servidor vem com Nota Fiscal paga por você

Em Foz do Iguaçu, uma novidade tem chamado a atenção. E provocado a indignação de muitos cidadãos. A Prefeitura estaria pagando aluguel de um terreno exclusivo para o estacionamento dos servidores da Secretaria da Fazenda. Uma cortesia curiosa, que beneficia justamente aqueles que têm a missão de cobrar impostos da população. Para alguns servidores, isso é sinal de boa gestão e cuidado com os trabalhadores. Para o contribuinte, soa mais como um deboche silencioso: enquanto o povo tenta sobreviver em meio a buracos, filas e taxas, o funcionalismo desfruta de um pequeno luxo sustentado com dinheiro alheio.

Segundo comentários nos corredores da própria Secretaria, "o general é um verdadeiro paizão". Paga até o estacionamento dos carros dos seus comandados. Uma frase que poderia ser engraçada, não fosse trágica para os que vivem na pele o outro lado da moeda: o da cobrança.

Porque o que está em questão não é apenas o valor do aluguel do terreno, mas o princípio violado. A prioridade do uso do recurso público. Afinal, que tipo de administração pública considera justo que o cidadão pague para que o funcionário tenha onde parar seu carro, enquanto o próprio cidadão, sem qualquer privilégio, precisa disputar uma vaga no centro e ainda corre o risco de ser multado?

A ironia dessa história dispensa criatividade. Imagine você pagando IPTU achando que está contribuindo para a pavimentação da rua onde mora, para a melhoria das escolas ou para o reforço na segurança pública e acaba descobrindo que o seu dinheiro está sendo usado para garantir conforto logístico a quem deveria lhe servir. E o mais impressionante: o estacionamento sequer é público. Fica ao lado da Secretaria de Finanças, mas é de uso exclusivo dos funcionários da pasta. E o povo? Que espere na fila, ou que estacione a 500 metros de distância, pague o estacionamento ESTARFI e ainda fica sujeito a multa porque parou a 13 milímetros da guia.

É uma verdadeira inversão de papéis. O contribuinte paga, mas não usufrui. O servidor é beneficiado, sem que haja qualquer critério público ou edital que justifique a medida. Um contrato de aluguel mensal, direto e limpo, para garantir o conforto de uma casta burocrática que deveria, em tese, ter o cidadão como centro de sua ação.

Mas o que temos é o oposto: um poder público que se acomoda em privilégios internos, enquanto terceiriza o sofrimento urbano.

O caso do estacionamento é simbólico. Ele revela, com precisão cirúrgica, o abismo que separa a administração pública dos reais interesses do povo. Revela também o desprezo pelo princípio da impessoalidade, da economicidade e da finalidade pública. Não há transparência no ato, tampouco há senso ético. O que existe é um sistema que privilegia os de dentro, sempre eles, e escanteia os de fora - sempre nós.

Onde está a tão falada austeridade do dito desgoverno General Silva e Luna, propagada durante as eleições?

E não se trata de um erro isolado. Essa prática se encaixa perfeitamente no padrão de gestão que tem sido adotado na cidade: uma administração voltada para dentro de si mesma, mais preocupada em agradar servidores e consolidar apoio político do que em melhorar a vida da população. Um exemplo claro de como a estrutura pública, quando usada de forma distorcida, pode se tornar uma máquina de conforto institucional - para poucos, às custas de muitos.

Se houvesse justiça administrativa, esse espaço de estacionamento seria, ao menos, compartilhado com os cidadãos que frequentam a Secretaria. Mas não. Nem isso. O máximo que o contribuinte pode fazer é assistir de longe enquanto paga a conta. É um "benefício público" com acesso privado. Um luxo escondido no contrato de aluguel, perdido entre os itens da planilha orçamentária.

Estamos diante de um modelo de gestão que não hesita em gastar para estacionamento, mas que muitas vezes demora anos para trocar uma lâmpada na rua, recapear uma via esburacada ou manter em funcionamento pleno uma unidade básica de saúde. Um modelo que prioriza o conforto de quem está no arcondicionado da burocracia, enquanto despreza o calor do asfalto onde o povo sua para pagar seus tributos.

Mais do que imoral, a prática é antiética. É um sintoma de uma política pública que esqueceu o público. É o retrato da elite administrativa que transformou o funcionalismo em uma ilha cercada de mordomias, ao mesmo tempo em que o cidadão comum luta para sobreviver no caos urbano, sem serviços básicos decentes, sem segurança, sem mobilidade - e, claro, sem estacionamento.

Essa história seria perfeita para uma série da Netflix: "Foz Confidential - a cidade onde o cidadão paga até para o servidor não andar a pé". Mas, diferente das ficções televisivas, essa história é real. Está documentada. E o mais grave: é legal. Sim, porque no Brasil, infelizmente, o que é legal nem sempre é legítimo. O que é permitido pela burocracia muitas vezes fere profundamente o senso de justiça da população.

Em tempos de crise, onde falta dinheiro para tudo - inclusive para garantir medicamentos em postos de saúde e merenda de qualidade nas escolas. Gastar para estacionar carros de servidores é uma provocação. É cuspir no prato do povo. É ignorar a essência do serviço público: servir.

Em Foz do Iguaçu, o estacionamento VIP virou o símbolo de uma gestão que não sabe mais o que é prioridade. Um luxo pago com suor alheio, uma vaga garantida num sistema que deixa o povo à deriva, procurando lugar - não só para parar o carro, mas para existir com dignidade.

Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 419, Página 3, de autoria do Jornalista Enrique Alliana

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