Presidente do Fozhabita foge de audiência e deixa população sem respostas
Por Tribuna Foz dia em Notícias

CRISE DA MORADIA IGNORADA
Presidente do Fozhabita foge de audiência e deixa população sem respostas
Audiência pública sobre despejos e moradias populares foi marcada pelo silêncio da principal autoridade responsável pela habitação em Foz do Iguaçu
Uma audiência pública tem um papel fundamental na democracia: dar voz ao povo, abrir espaço para o debate e buscar soluções coletivas para problemas que afetam a sociedade. No entanto, em Foz do Iguaçu, esse instrumento de participação foi transformado em palco de frustração. O episódio da audiência convocada pela vereadora Valentina, voltada à questão da habitação e das recentes desocupações na cidade, não foi marcado por propostas ou encaminhamentos, mas sim por uma ausência. A ausência do presidente do FozHabita, Ivatan Reis, a autoridade máxima da autarquia municipal responsável justamente por aquilo que estava em debate, que é a moradia.
Virou as costas para a população
Não se trata apenas de um detalhe protocolar, mas de um gesto carregado de simbolismo. A fuga de uma audiência pública equivale a virar as costas para a população que sofre. Famílias inteiras, angustiadas pelo risco constante de despejo, pela falta de regularização fundiária e pelo abandono do poder público, compareceram para ouvir respostas. E o que receberam? Silêncio. Um silêncio que não resolve, não conforta e, pior, escancara a distância entre gestores bem remunerados e cidadãos que lutam diariamente pelo direito básico de ter onde morar.
"Eu estou indignada, por que temos o secretário do FozHabita que ganha quase R$ 20 mil por mês e não está aqui para ouvir a população. Ele se acovardou. As perguntas e as falas hoje na audiência são para ele. Cadê ele para ouvir a população?", disse a vereadora Anice Gazzaoui.
O uso da palavra "acovardou"
Não é mero exagero retórico. Isso expressa a sensação de covardia política diante de um tema que exige coragem, clareza e responsabilidade. Afinal, como explicar que justamente o presidente da autarquia responsável pela habitação se recuse a dialogar com aqueles que vivem a tragédia da insegurança habitacional?
O núcleo do governo demonstra que a pauta da habitação não é prioridade
A ausência de Ivatan não foi apenas pessoal; ela representou a própria postura do governo municipal frente à crise habitacional. Estiveram presentes representantes da Fazenda, da Segurança Pública e até da Procuradoria, Todos por meio de assessores, não secretários. A exceção foi Alex Thomazi, da Assistência Social, que assumiu sozinho o peso de dialogar com a população. Isso reforça a percepção de que, no núcleo do governo, a pauta da habitação não é prioridade.
Enquanto isso, os relatos no plenário foram duros. Famílias que vivem em ocupações narraram o medo diário de verem suas casas demolidas, a ausência de serviços básicos como água e luz, e a constante incerteza sobre o futuro. Esse cenário revela uma cidade que, apesar de movimentar bilhões com o turismo, ainda não conseguiu resolver a contradição mais gritante que é a existência de centenas de famílias sem teto ou vivendo em condições precárias.
Falta de planejamento
A fuga do presidente do FozHabita também escancara a falta de planejamento. As lideranças comunitárias cobraram um cronograma de regularização fundiária, algo que poderia ao menos apontar uma luz no fim do túnel. Mas nada foi apresentado. Nada foi prometido. Nada foi sequer esboçado. Como disse uma representante da comunidade: "Viemos em busca de respostas e encontramos o silêncio. Pelo jeito vamos ter que ir com o povo em frente ao FozHabita para sermos ouvidos."
A frase é reveladora. Quando o poder público se recusa a dialogar, a pressão popular se desloca para as ruas. O risco disso é transformar um debate institucional em conflito social. Famílias que já sofrem com despejos podem acabar sendo criminalizadas por reivindicar aquilo que deveria ser garantido pela Constituição: o direito à moradia digna.
Mais grave ainda é que, até o fechamento da matéria sobre a audiência, nem Ivatan nem o FozHabita emitiram qualquer explicação. O silêncio, nesse caso, não é apenas ausência; é também indiferença. E indiferença, na gestão pública, custa caro: custa a dignidade das famílias, custa a credibilidade das instituições e mina a confiança da sociedade na própria ideia de democracia participativa.
O episódio precisa ser lido para além da frustração momentânea. Ele revela uma lógica perversa que se repete em Foz do Iguaçu: discursos de planejamento urbano modernos e estratégias de marketing político convivem com a omissão diante dos problemas reais. A cidade é promovida como polo turístico, referência internacional, mas não consegue oferecer respostas mínimas para os seus próprios moradores mais vulneráveis.
A audiência que deveria servir de espaço para avançar no diálogo sobre moradia se transformou em retrato do retrocesso democrático: quando o representante máximo do tema se cala, o que sobra é o eco da insatisfação popular. Foz do Iguaçu não precisa de gestores que fujam de debates; precisa de lideranças que assumam responsabilidades, que olhem nos olhos do povo e tenham coragem de enfrentar problemas complexos.
A crise habitacional não será resolvida com promessas vazias, muito menos com ausências estratégicas. O mínimo que a população espera é respeito. E respeito, nesse caso, começa pelo ato mais simples de todos: estar presente.
Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 421, Página 8, de autoria do Jornalista Enrique Alliana