Senador pede investigação sobre "antro" de corrupção e assassinato na Itaipu
Por Tribuna Foz dia em Notícias

BOMBA NA TAIPA
Senador pede investigação sobre "antro" de corrupção e assassinato na Itaipu
Eduardo Nakayama pede a Lula que abra a "caixa preta" da Itaipu e denuncia corrupção, espionagem e até assassinato durante o período ditatorial
Em um discurso contundente no Senado do Paraguai, o senador Eduardo Nakayama, do Partido de la Libertad, fez um apelo direto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que determine a abertura de todos os arquivos relacionados à construção e gestão da Usina Hidrelétrica de Itaipu durante o período das ditaduras militares que governaram Brasil e Paraguai durante décadas.
Nakayama declarou ter solicitado formalmente à presidência paraguaia o direito de fazer sua declaração diretamente ao presidente brasileiro. "Por eso le pedí permiso al presidente para hacer una declaración directamente al presidente Lula, y lo haré en su idioma, en portugués", afirmou, antes de iniciar uma fala histórica na língua portuguesa.
"A história das relações entre nossas nações é marcada por uma prolífica integração e desenvolvimento. Mas também por uma profunda assimetria que ao longo dos séculos impôs ao Paraguai sacrifícios desproporcionais", disse. Ele citou episódios históricos como a Guerra da Tríplice Aliança, que resultou em graves perdas territoriais, econômicas e políticas para o Paraguai, em benefício do Brasil.
O senador também denunciou o que classificou como um "antro de corrupção" instalado ao longo das décadas no projeto Itaipu, mencionando inclusive o assassinato do diplomata brasileiro José Jobim em 1979, pouco depois de anunciar que escreveria um livro revelando as irregularidades cometidas na usina durante os governos do general Alfredo Stroessner e dos generais brasileiros que governaram durante o regime militar. Jobim foi encontrado morto e enforcado com indícios de tortura, mas o caso foi abafado durante anos.
"A transparência é fundamental. Peço que o presidente Lula determine a abertura de todos os arquivos relacionados a Itaipu, revelando os segredos da ditadura e os acordos que prejudicaram o Paraguai", clamou Nakayama da tribuna, afirmando que, assim como Donald Trump nos EUA, Lula poderia promover um ato de justiça histórica ao liberar documentos secretos mantidos sob sigilo há décadas.
ARAPONGAGEM
O senador ainda denunciou o uso de práticas ilegais por parte da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), que teria promovido ações de arapongagem digital contra autoridades paraguaias para obter vantagens nas negociações sobre tarifas da energia gerada por Itaipu. "É mais um capítulo dessa relação desigual, que agora exige transparência e justiça", declarou.
A denúncia de Nakayama se refere à revelação publicada pelo portal UOL, segundo a qual um agente da Abin prestou depoimento à Polícia Federal revelando uma ação hacker contra membros do governo paraguaio. O objetivo seria obter informações privilegiadas para beneficiar o Brasil nas negociações sobre os valores pagos pela energia excedente gerada pela hidrelétrica. O caso está sendo investigado pelas autoridades brasileiras.
As declarações do senador paraguaio ecoam um crescente sentimento no país vizinho por mais equilíbrio nas relações bilaterais com o Brasil e mais transparência na gestão de Itaipu, um dos maiores projetos binacionais do mundo.
O misterioso assassinato do embaixador José Jobim
O embaixador José Jobim, diplomata de carreira e ex-representante do Brasil em países como França e Itália, foi encontrado morto em março de 1979, poucos dias após anunciar que escreveria um livro denunciando irregularidades bilionárias na construção da Usina de Itaipu, durante os governos militares do Brasil e do Paraguai.
Jobim havia participado das negociações iniciais do Tratado de Itaipu e, segundo relatos, possuía documentos comprometedores sobre superfaturamentos, corrupção e acordos secretos que lesavam o Paraguai e o Brasil. Pouco antes de desaparecer, disse a amigos e familiares que iria revelar tudo em uma publicação. Mas seu destino já estava selado por algozes que não queria ver a podridão escancarada.
Seu corpo foi encontrado pendurado por uma corda em uma árvore, em Maricá (RJ). Ele estava com as pernas dobradas, como se alguém tivesse obrigado ele se ajoelhar e pedir perdão antes de morrer. A versão oficial afirmou suicídio. Porém, o laudo apresentava sinais de tortura, e a posição do corpo indicava que ele já estava morto antes de ser pendurado.
O caso foi abafado pela ditadura. Só em 2018, a Comissão Nacional da Verdade reconheceu que Jobim foi assassinado por agentes do regime militar para silenciá-lo e evitar o vazamento das denúncias sobre Itaipu.
Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 411, página 10, de autoria do Jornalista Enrique Alliana