Trama contra vereadora Anice Gazzaoui foi articulada ao menos desde o Réveillon
Por Tribuna Foz dia em Notícias

ARMAÇÃO
Trama contra vereadora Anice Gazzaoui foi articulada ao menos desde o Réveillon
Ex-assessor detalha consulta a vereadores sobre voto e pressão para imprensa causar desgaste ao legislativo
A conspiração para cassar o mandato da vereadora Anice Gazzaoui (PP) em Foz do Iguaçu vinha sendo articulada desde pelo menos o Réveillon, segundo revelam áudios gravados por uma advogada aliciada para integrar o esquema. Em um dos diálogos, Marcos Antônio da Silva, ex-assessor de Anice e réu na operação Cashback, afirma que já havia consultado o vereador Paulo de Brito (PL) sobre um eventual pedido de cassação antes mesmo de sua eleição à presidência da Câmara Municipal.
"O de Brito, eu conversei com ele no Réveillon. E falou: 'Depende do que tiver de documento contra ela (Anice), (que seja algo )palpável'. Na época ele nem era presidente ainda", relata Marcos Silva, sugerindo que o então vereador já estava ciente da articulação política antes de assumir o cargo.
A conversa revela ainda que Marcos Silva e Ian Vargas (PT), terceiro suplente da chapa petista, buscavam mapear o posicionamento dos vereadores sobre a possível cassação de Anice. No diálogo, eles mencionam o apoio de Evandro Ferreira (PSD), Cabo Cassol (PL) e Adnan El Sayed (PSD), que teriam sinalizado voto favorável à cassação de Anice Gazzaoui (PP).
"O Evandro falou que se vier coisa forte, ele vota (favorável). O Cassol falou que vota. O Adnan, vota", enumera Marcos Silva.
Já sobre os demais parlamentares, os manipuladores demonstram incerteza. Ian avalia que Yasmin Hachem (PV) e Valentina Rocha (PT) dificilmente votariam pela cassação. "Essas eu não acredito que votam agora, não. Eu acho muito difícil elas não ajudarem a Anice", comenta.
Os diálogos também indicam que Fernando Duso (PT), assessor parlamentar do vereador Beni Rodrigues (PP), teria influência direta sobre o vereador, que poderia seguir sua orientação. "O Duso odeia ela (Anice) e está mandando no Beni", diz Ian.
Sobre outros nomes, os Marcos Silva e Ian Vargas mencionam que Márcia Bachixte (MDB) estaria alinhada com Anice, enquanto Ranieri (PL) e Sidinei Prestes (MOBILIZA) seriam considerados políticos "água com açúcar", ou seja, sem uma posição clara. Marcos também aposta que Bosco Foz (PL), identificado na conversa como "Tosco", votaria favoravelmente à abertura do processo de cassação.
Diante desse cenário, a advogada questiona se haveria um possível empate na votação da Câmara. Marcos admite que ainda não havia feito a contagem exata. "Eu não coloquei no papel ainda para ver como dá", responde.
Planejamento incluía manipulação da imprensa
Os áudios também revelam que Marcos pretendia manipular veículos de imprensa para gerar pressão pública sobre os vereadores no momento do protocolo da representação contra Anice.
"Precisa ser aquela coisa cronometrada. Protocolou, tem que ir para a mídia, colocar pressão nos vereadores", afirma Ian. Marcos, por sua vez, detalha como mobilizaria a cobertura jornalística. "Quando vocês protocolarem, vocês me avisam a data que eu já vou avisar o pessoal da Rádio Cultura. Que aí o pessoal da Rádio Cultura vai estar lá (na Câmara) e vai pegar na hora. Talvez a RPC, também", explica.
O objetivo era garantir que a imprensa estivesse presente no ato do protocolo, amplificando o impacto da ação e criando um ambiente político desfavorável à vereadora.
Insegurança sobre fundamentação jurídica
Em outro trecho da conversa, a advogada expressa preocupação sobre a base legal da representação. "Mas o problema é o documento. A gente vai juntar só a reportagem?", questiona, referindo-se à tentativa de embasar o pedido de cassação em matérias jornalísticas.
Ian demonstra insegurança sobre o uso de documentos sigilosos para fundamentar a peça. "Se não puder nem citar, aí tem que diminuir o arquivo, tirando aqueles trechos. Eu vou editar tudo. Se não puder, porque eu acho que estava consistente, o pedido mais o deferimento da Justiça", admite.
A resposta reforçam que os articuladores pretendiam utilizar informações sob sigilo judicial para sustentar a acusação, levantando a possibilidade de crime de violação de segredo de Justiça. Marcos, por sua vez, sugere a inclusão da nota do GAECO sobre buscas e apreensões realizadas no âmbito da operação Cashback, na tentativa de legitimar a ação.
Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 406, página 6, de autoria do jornalista Enrique Alliana
Veja o Jornal Tribuna Popular, Edição 406: https://tribunafoz.com/uploads/files/2025/02/jornal-tribuna-popular-edicao-406-pdf.pdf