Um governo militar e a deserção ao poder público
Por Tribuna Foz dia em Notícias

AUSTERIDADE AS AVESSAS
Um governo militar e a deserção ao poder público
O "general prefeito" deveria estar à frente de uma tropa organizada, mas o que se vê é um comando perdido em meio às trincheiras da burocracia e da ineficiência
A eleição de Joaquim Silva e Luna para a prefeitura de Foz do Iguaçu carregava em si uma simbologia que falava diretamente à expectativa popular. General de reserva, com currículo respeitado nas Forças Armadas, ele representava a promessa de uma gestão disciplinada, austera e firme, tal qual se imaginava de um comandante acostumado a missões complexas. Entretanto, a prática revelou o oposto: ao invés da tão propalada austeridade, a administração municipal transformou-se em um cenário de deserção generalizada, onde cada secretário parece ter abandonado seu posto, deixando a cidade entregue ao improviso e à paralisia.
A metáfora militar que embalou a campanha virou ironia. O "general prefeito" deveria estar à frente de uma tropa organizada, mas o que se vê é um comando perdido em meio às trincheiras da burocracia e da ineficiência.
Secretarias que deveriam ser quartéis ativos parecem mais acampamentos desertos, com oficiais ausentes e subordinados sem direção. O resultado é um governo que, em vez de avançar, recua todos os dias diante dos problemas mais básicos da cidade.
Na habitação, o abandono é claro: famílias aguardam regularização fundiária, enquanto despejos e insegurança jurídica se multiplicam. Já na Secretaria de Obras, a guerra contra os buracos foi perdida há muito tempo. As ruas viraram verdadeiras crateras, capazes de engolir promessas eleitorais e de transformar qualquer trajeto em teste de resistência. Nem mesmo o lendário caminhão 6x6, exaltado na campanha do vereador Ranieri, teria coragem de enfrentar as vias esburacadas sem risco de atolar, uma verdadeira metáfora perfeita para a paralisia da gestão.
Segurança Pública
A área de segurança, que deveria ser o grande trunfo do militarismo na prefeitura, também revela o mesmo padrão de ineficiência. O secretário é um almirante, Paulo Tinoco, com formação invejável, condecorações nacionais e internacionais, títulos acadêmicos e experiência estratégica. No papel, um perfil que impressiona. Na prática, um fiasco. O currículo recheado não é capaz de garantir sequer a manutenção de garantias obrigatórias das viaturas da Guarda Municipal recebidas pelo Governo Federal.
É como um submarino de guerra que, sem manutenção adequada, afunda lentamente até desaparecer no fundo de um oceano burocrático. Toda a disciplina, toda a teoria, toda a pompa das condecorações tornam-se irrelevantes quando confrontadas com a incapacidade de solucionar problemas concretos e cotidianos da cidade.
O resultado é que Foz do Iguaçu vive sob um governo militar sem comando, onde os generais, almirantes e coronéis dos gabinetes mais parecem colecionadores de títulos do que gestores públicos comprometidos com resultados.
A austeridade virou discurso vazio. A disciplina, mera encenação. E a energia prometida na campanha dissolveu-se no marasmo de uma gestão que não consegue se impor nem mesmo diante das demandas mais elementares da população.
Em um campo de batalha, a deserção é considerada crime gravíssimo, passível das punições mais duras. Na política, porém, ela se traduz em ruas abandonadas, serviços públicos estagnados e uma população deixada à própria sorte. O que se esperava de um comando firme transformou-se em um silêncio cúmplice, em um abandono progressivo da cidade.
Foz do Iguaçu merecia uma liderança capaz de unir estratégia e ação. O que recebeu foi um governo que vive de símbolos militares, mas que na prática se rendeu à burocracia e à ineficácia. A guerra pela boa gestão não está sendo perdida. Porque, ao que tudo indica, nunca chegou a ser de fato travada.
Esta é uma reprodução da matéria jornalística publicada pelo Jornal Tribuna Popular, Edição 421, Página 3, de autoria do Jornalista Enrique Alliana