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Hospital ITAMED e o fracasso administrativo da era Enio Verri

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Hospital ITAMED e o fracasso administrativo da era Enio Verri
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O COLOSSO EM COLAPSO

Hospital ITAMED e o fracasso administrativo da era Enio Verri

Pela 1ª vez em 46 anos o Hospital ITAMED promove medo e insegurança entre seus funcionários

Enrique Alliana - Jornalista

O Hospital ITAMED, antigo Hospital Ministro Costa Cavalcanti, completou seus 46 anos de existência mergulhado em um cenário que poucos imaginavam ser possível. Criado durante o regime militar, mantido com os recursos da Itaipu Binacional, o hospital sempre foi símbolo de estabilidade, excelência e orgulho regional. Hoje, pela primeira vez em sua história, é o centro de um turbilhão de medo, insegurança e desconfiança, sentimentos que, ironicamente, emergem sob uma gestão que prometia justamente o oposto: valorização dos trabalhadores e humanização das relações de trabalho.

A virada de página começou com a chegada de Enio Verri à diretoria-geral da Itaipu Binacional, cargo estratégico que sempre teve influência direta sobre o hospital. O discurso inicial foi de inclusão, respeito ao trabalhador e eficiência administrativa. Mas o que se viu, passado-se os meses, foi uma inversão total de expectativas. O que antes era esperança virou frustração, e a “nova era” da esquerda na Itaipu começou a se assemelhar, para muitos funcionários, a um pesadelo travestido de gestão técnica.

Um clima de medo no hospital da esperança

O SEESSFIR, sindicato que representa os trabalhadores da saúde de Foz do Iguaçu e região, trouxe à tona o que vinha sendo sussurrado nos corredores do ITAMED: um clima de medo e insegurança sem precedentes. As demissões em série criaram um ambiente de apreensão generalizada. Enfermeiros, técnicos e auxiliares relatam exaustão, sobrecarga e a sensação de que, a qualquer momento, poderão ser os próximos a serem dispensados.

O comunicado do sindicato, publicado nas redes sociais, reflete o drama humano que se desenrola entre paredes hospitalares: equipes reduzidas, acúmulo de funções, negociações trabalhistas travadas e a ausência inédita de um acordo coletivo dentro do prazo habitual. O resultado é um ambiente de tensão constante, onde o silêncio dos funcionários, antes sinal de disciplina, agora é reflexo do medo.

A denúncia mais grave é simbólica: pela primeira vez, o Hospital ITAMED deixou de concluir seu acordo coletivo no tempo certo. Isso representa não apenas uma falha administrativa, mas um rompimento histórico de confiança entre a gestão e seus trabalhadores. Num setor tão delicado quanto a saúde, a instabilidade institucional se traduz em risco direto à qualidade do atendimento e ao bem-estar de quem serve à população.

De símbolo de eficiência à metáfora do desgoverno

O que choca não é apenas o caos administrativo, mas o paradoxo político que o sustenta. O hospital, nascido sob um regime militar e tradicionalmente administrado por perfis técnicos e conservadores, sobreviveu a gestões de direita sem enfrentar tamanha crise humana. Contudo, é sob a batuta de um governo dito “progressista”, que prometia defender os trabalhadores, que a instituição vive sua pior fase.

É um golpe duro à narrativa de que a esquerda, ao assumir o comando de instituições públicas, traria empatia e valorização das pessoas. O caso ITAMED demonstra o oposto: a gestão de Enio Verri parece refém de interesses políticos e de uma burocracia ineficiente que prioriza cargos e articulações internas em detrimento da saúde institucional.

Para quem acreditou que o “modo petista de governar” resgataria o respeito aos profissionais, o que se vê é um retrocesso digno de ironia histórica. O hospital criado pela ditadura militar sobreviveu ao autoritarismo, às crises econômicas e às reformas neoliberais. Agora, agoniza nas mãos de uma administração que prometia libertá-lo.

O COLOSSO EM COLAPSO

A política acima da saúde no Hospital ITAMED

Hospital criado pela ditadura, foi na democracia que começou a sentir medo. Um medo não de censura, mas de demissão; não de tortura, mas de abandono

O Hospital ITAMED, antes referência de excelência e respeito profissional, vive um dos períodos mais sombrios de sua história recente. As últimas nomeações para o cargo de diretor técnico, feitas sem o rigor e a responsabilidade que a função exige, geraram um ambiente de instabilidade, medo e descrédito. Relatos de assédio moral, gritos em reuniões e o insólito uso de um taco de beisebol com a palavra “diálogo” símbolo grotesco de intimidação, revelam a degradação do clima institucional.

O corpo clínico, em um gesto inédito, recorreu à Justiça para exigir o básico: condições dignas de trabalho e respeito. O hospital que nasceu para salvar vidas agora precisa ser salvo de sua própria direção. A gestão técnica transformou o diálogo em autoritarismo e o profissionalismo em tensão constante. Cabe à Itaipu Binacional rever, com urgência, os critérios de escolha de seus dirigentes, antes que o Hospital ITAMED perca aquilo que o fez grande: a confiança de seus profissionais e da população.

Disputa de bastidores

Fontes internas e observadores políticos apontam que Enio Verri tem se envolvido em uma disputa de bastidores com a ministra Gleisi Hoffmann, presidente estadual de fato e não de direito do Partido dos Trabalhadores. Essa tensão, segundo interpretações, estaria afetando decisões estratégicas dentro da Itaipu e, consequentemente, o destino do ITAMED.

A suspeita é de que Enio Verri, ao tentar projetar seu próprio grupo político e abrir espaço para o irmão nas eleições de 2026, tenha transformado a gestão de Itaipu, e por extensão do hospital em palco de disputas eleitorais disfarçadas de decisões administrativas. O resultado é um descompasso entre discurso e prática: enquanto o partido fala em “cuidar das pessoas”, as pessoas que mais precisam de cuidado, os trabalhadores sofrem com cortes, medo e insegurança.

O desgaste é tanto institucional quanto moral. Dentro da própria base petista, cresce o incômodo com a falta de sensibilidade de uma gestão que deveria simbolizar o “novo tempo de reconstrução” prometido pelo governo federal.

Itaipu: um gigante que exige competência

Itaipu Binacional é uma das maiores e mais estratégicas empresas do mundo. Administrá-la exige equilíbrio, conhecimento técnico e, acima de tudo, responsabilidade institucional. A usina não é um campo de testes para ambições partidárias. Quando Enio Verri assumiu, muitos acreditavam que sua experiência política e acadêmica traria racionalidade e sensatez. No entanto, a gestão tem se mostrado confusa, hesitante e descolada da realidade operacional.

A comparação com seus antecessores é inevitável. Tanto o almirante Anatalicio Risden quanto o general Silva e Luna, ambos indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, foram alvo de críticas políticas, mas mantiveram a estabilidade administrativa da Itaipu e, por consequência, do Hospital Ministro Costa Cavalcanti. Sob o comando de Enio Verri, essa estabilidade ruiu. O que antes era previsível, hoje é incerteza.

É simbólico que, enquanto médicos são homenageados com festas, técnicos e enfermeiros convivem com o medo do desemprego. Esse contraste revela uma gestão elitizada e desumanizada, que esqueceu justamente quem carrega o hospital nas costas: os trabalhadores da base.

A falência moral e o custo humano

O que mais preocupa, entretanto, vai além dos números ou dos cargos. É o desgaste psicológico e emocional que tomou conta do corpo funcional. Profissionais relatam ansiedade, noites sem sono e o peso de trabalhar “com o coração apertado”, sem saber o que será do seu emprego amanhã.

A ausência de diálogo entre gestão e trabalhadores agrava a sensação de abandono. Um hospital é, por natureza, um espaço de empatia, cuidado e solidariedade. Quando seus próprios funcionários deixam de sentir isso dentro da instituição, o problema deixa de ser administrativo e se torna ético.

O SEESSFIR foi claro: há uma “venda colocada na direção que não enxerga o que os trabalhadores precisam”. A metáfora é precisa e dolorosa. O hospital, que nasceu para cuidar, hoje precisa ser cuidado. E a cegueira administrativa pode custar não apenas empregos, mas a própria reputação construída ao longo de quase meio século.

O erro estratégico da arrogância

O caso do Hospital ITAMED é mais que uma crise local, é um espelho do erro recorrente de gestores que confundem poder com competência, e ideologia com eficiência. Enio Verri, ao invés de consolidar a imagem de um gestor progressista e humano, vem colecionando desgastes que fragilizam não apenas sua administração, mas a credibilidade do próprio governo que o sustenta.

A história cobra coerência. O hospital que sobreviveu à ditadura, à inflação e às mudanças de regime, agora sofre sob a autossuficiência de uma gestão que prometeu cuidar, mas esqueceu de ouvir. O colosso que nasceu sob o signo da energia agora parece esgotado, não por falta de recursos, mas por falta de visão.

E assim, o Hospital ITAMED chega aos seus 46 anos como um monumento à contradição: criado pela ditadura, foi na democracia que começou a sentir medo. Um medo não de censura, mas de demissão; não de tortura, mas de abandono. O medo de perceber que, mesmo em tempos de liberdade, a incompetência ainda pode ser o regime mais cruel.

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